* Por Márcio Alexandre

É uma criança maravilhosa. Um menino quieto, inteligente, dócil. Tem pouco mais de 10 anos. Fala mansa, gestos comedidos, sorriso tímido. Naquele dia, aparentava uma calmaria maior do que a de costume. A costumeira serenidade do olhar tinha dado espaço para uma tristeza. A mansidão que rotineiramente o caracteriza ia, aos poucos, dando espaço a um certo mal-estar.

Uma inquietude escapava de sua face. Algo em seu interior incomodava. Mais que isso: machucava. Causava tristeza. Minava-lhe as forças. Tirava-lhe o sossego. Deixava-o inseguro.

Percebendo que algo poderia estar errado, o adulto se aproximou dele. A criança tentava manter a calma, mas o seu sofrimento era visível, apesar de toda a sua discrição. Algo nele o fazia sofrer. Doía. Descobriu-se que o motivo da dor era fome.

O homem fez, com muito jeito e algum medo, uma pergunta: por que ele não tinha se alimentado? Aguardava, com ansiedade e angústia a resposta. Que veio como um soco no estômago. Forte. Seco. Inevitável. “Em minha casa não tem comida”. Uma pancada na face.

O homem segurou-se. Para não chorar. Para não esbravejar contra os quem produzem essa maldade. Para não expressar sua indignação naquele momento em que o se pedia era serenidade. Era urgente alimentar o menino. Cessar por algumas horas a dor.

Tomadas as providências necessárias, o adulto recobrou suas forças. Demorou para reconstruir sua racionalidade.

O Brasil de Bolsonaro é um país que se especializou em matar pequenos de fome e os sensatos de raiva. Um governo que produz essa miséria não pode ser chamado de cristão. Uma nação que aceita essa barbárie não pode ser chamada de civilizada.

Imagem: fdr.com

* Professor e jornalista

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

 
 
 

One thought on “Uma agressão à inocência

  1. O presidente tá é dizendo que não é cozinheiro e que isso é só uma fomezinha. Canalhice com a dor do próximo, insensibilidade com os humildes e população da pátria que ele chama de amada… Não tem humanidade alguma, ele não é de Deus. Eleições vêm aí e com certeza o brasileiro vai tomar a providência divina de desvinculá-lo da cadeira que ele não é digno de estar. ELE NÃO. ELE NUNCA MAIS! Deus é pai, não é padrasto.

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