A mentira venceu mais uma

por Ugmar Nogueira
A+A-
Reiniciar

* Márcio Alexandre

Um prefeito reuniu o sindicato para anunciar que não daria uma pataca de reajuste aos trabalhadores. Não escolheu palavras. Foi curto e direto. Grosso até.
Com a repercussão muito negativa correu pra desmentir. A si próprio. Dizer que não disse o que todo mundo sabia que ele tinha dito.
Um blog, desses que pululam com avidez pra noticiar o que agrada a quem paga, acorreu o gestor.
Por afeição, apreço ou paixão, não só defendeu o burgomestre. Assacou também quem foi vítima da patuscada ardil do administrador público. Para dar ares de verdade à mentira oficial é preciso desqualificar quem tenta ser verdadeiro.
Um ex-presidente afirmou,  em tom jocosamente ameaçador, que quem tomasse uma determinada vacina iria virar jacaré.

Em tempos normais, ninguém levaria a pachouchada a sério. Nem aqui nem na China vacina transforma lagartixa em jacaré. Muito menos pessoas, embora gente que acredite nisso valha menos que os répteis.

Lógico que quem desacreditou publicamente o imunizante já estava – na surdina – imunizado. Carimbou de jumento, com chancela governamental, muitos pobres-diabos. Com a devida vênia dos asininos.
Um outro prefeito negou o quanto quis o reajuste aos professores. Como cantilena gobblesiana, tentou fazer da mentira – sua grande parceira – uma  verdade artificial. Não colou. Mesmo que tenha gasto milhões pra isso.
Esses exemplos, reais, mostram o quanto a mentira virou ferramenta de manipulação. Da opinião pública. Do público.
Nunca se viu tanta gente propensa a acreditar em lorotas. E tanta gente disposta a falsear. Discursos, dados, sistemas.
Por tudo o que já sabemos, um dia mais em que se protela a tomada de decisão sobre o combate às notícias falsas é uma vitória da mentira. Na qual quem perde não é o governo, é a sociedade.
Cada vez mais a verdade está refém da mentira. E sendo torturada por ela. Com perversidade. Fazendo tantos crer no que não deveria ser crível.

Com a mentira dominando, o jornalismo- salvo honrosas exceções- ficou sem pudor. A política tomada ainda mais por gente sem vergonha. A democracia mais frágil e o povo mais desprotegido.

As bigtechs, que de pequena só tem o nome, fogem da verdade como o tinhoso foge da cruz.
Era de se esperar que se defendessem. Ninguém imaginava, porém, que uma das gigantes do setor, o Google (veja na imagem que ilustra esse texto) fizesse o papelão que fez, embora pra ele seja difícil lutar contra a verdade sem mentir. Ajoelhou-se aos pés da falsidade para permitir que continuem a disseminar falsidades.
Que a sociedade se mobilize para que quem manuseie fake news – com ganhos financeiros, políticos, jurídicos ou de qualquer natureza, e até mesmo sem ganho nenhum, seja responsabilizado. O Brasil não suporta mais viver sob o império da farsa. E isso não é nenhuma balela.

 

Professor e jornalista

 

 

Publicidade

Postagens relacionadas

Deixe um comentário

* Ao usar este formulário, você concorda com o armazenamento e o manuseio dos seus dados por este site.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Assumiremos que você está ok com isso, mas você pode optar por não participar se desejar. Aceitar Leia mais