Seguem abertas as inscrições para a Jornada de Alfabetização de Jovens e Adultos nas Periferias em Mossoró. As aulas começam ainda em agosto. Com o método “Sim, Eu Posso!”, a previsão é de que a alfabetização aconteça em até cinco meses. Neste primeiro momento, serão 25 turmas distribuídas pelas comunidades do município.
A ação é desenvolvida pelo Mãos Solidárias, iniciativa que já atua com apoio em alimentação e educação popular e que agora também se dedica ao combate ao analfabetismo em nossa cidade. As aulas, com duração de 2h, serão realizadas em horários flexíveis, definidos junto com as comunidades, podendo acontecer pela manhã, tarde ou noite.
Voltado para pessoas a partir dos 15 anos que não sabem ler e escrever ou que enfrentam dificuldades na leitura e na escrita, o projeto utiliza o método cubano “Sim, Eu Posso!”, já aplicado com sucesso em diversos países que superaram o analfabetismo.
Ao final do curso, os participantes recebem um certificado de alfabetização, abrindo portas para novas oportunidades de estudo, trabalho e realização pessoal.
Vinculada ao Decreto nº 12.048 de 2024, que instituiu o Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação da Educação de Jovens e Adultos, a Jornada é fruto de uma parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e com o Ministério da Educação (MEC).
Para participar ou indicar alguém, basta entrar em contato com os coordenadores do projeto, Cumpadi Caboco e Luis Henrique, que irão encaminhar para a turma mais próxima de sua casa. Com essa Jornada, o Mãos Solidárias reafirma o compromisso com o direito à educação e com a transformação da realidade nas periferias.
Coordenadores de Turmas em Mossoró:
– Cumpadi Caboco: (84) 98875-4874
– Luis Henrique: (84) 99917-813
Alfabetização
O Governo Federal através do Ministério da Educação divulgou o resultado do “Selo Nacional Compromisso com a Alfabetização” que visa reconhecer o trabalho das secretarias estaduais e municipais de educação com a alfabetização das crianças. Dentre os Estados da federação, o Rio Grande do Norte foi um dos agraciados com o “Selo Ouro”, e dos municípios potiguares, Currais Novos foi um dos contemplados com a mesma honraria, ou seja, de excelência no trabalho, mobilização, gestão e formação realizados em prol da alfabetização das nossas crianças.
Dentre os critérios avaliados, foram observados a colaboração entre os entes federativos, a institucionalização e implementação da política de alfabetização, a implementação das ações de formação de professores e gestores, e a distribuição de materiais didáticos complementares de apoio à alfabetização.
“Esse é mais um reconhecimento do nosso trabalho na educação em Currais Novos, os investimentos que realizamos, a valorização dos nossos professores, as reformas e ampliações das escolas, tudo reflete nos bons índices e prêmios que conquistamos em nossa gestão”, afirmou o Prefeito Odon Jr.
RN inicia 2ª edição do SIMAIS Alfa para avaliar alfabetização de 28 mil estudantes da rede pública
Entre os dias 4 e 8 de novembro, o Rio Grande do Norte realiza a 2ª edição do Sistema Integrado de Monitoramento e Avaliação Institucional da Rede Estadual de Ensino (SIMAIS), com o módulo voltado à alfabetização dos estudantes do 2º ano. Denominado SIMAIS Alfa, este processo avaliativo ocorre em colaboração entre o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e do Lazer (SEEC), e as redes municipais de ensino, por meio da parceria com a União dos Dirigentes Municipais de Ensino (Undime-RN), envolvendo 903 instituições de ensino, como escolas estaduais e municipais, e 28.949 estudantes.
Instituído pela Portaria-SEI nº 4488, de 24 de setembro de 2024, o SIMAIS Alfa tem como propósito fornecer informações valiosas para o planejamento escolar e para a recomposição das aprendizagens, contribuindo para fortalecer a alfabetização na rede pública.
A avaliação censitária é aplicada em larga escala e tem como objetivo diagnosticar o nível de aprendizagem dos estudantes, em especial nas habilidades fundamentais do currículo escolar. Segundo a Secretaria Estadual de Educação, esta iniciativa permite monitorar o desenvolvimento do currículo potiguar nas escolas, ao mesmo tempo que destaca habilidades que precisam de maior atenção dos professores.
“O SIMAIS Alfa representa uma ferramenta essencial para identificar, com precisão, quais aspectos da alfabetização demandam atenção”, afirma a professora Socorro Batista, secretária de Educação do Rio Grande do Norte. Ela acrescenta que “a iniciativa visa garantir o direito à aprendizagem e reduzir as desigualdades educacionais em nosso estado, ao alinhar as ações pedagógicas com o desempenho dos estudantes”.
A logística do SIMAIS Alfa inclui capacitação prévia dos profissionais envolvidos, que recebem materiais de apoio como manuais, tutoriais e suporte técnico da equipe do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). De acordo com o coordenador de Avaliação Educacional da SEEC, Afonso Gomes, “a preparação dos educadores e a estrutura fornecida às escolas são cruciais para o sucesso do SIMAIS Alfa. Nossa equipe tem como missão fornecer todo o suporte necessário para que o processo de avaliação seja fluido e produtivo, permitindo um diagnóstico preciso do aprendizado dos estudantes”.
Os resultados das avaliações, calculados pelo CAEd/UFJF, estarão disponíveis na Plataforma de Avaliação SIMAIS, uma ferramenta acessível pela internet, onde educadores poderão visualizar o desempenho dos alunos por componente curricular e ano escolar. Além disso, a plataforma oferece conteúdo complementar como textos, vídeos e podcasts, permitindo aos professores interpretar os resultados e planejar estratégias pedagógicas para melhorar o desempenho dos estudantes.
Essa avaliação diagnóstica também traz um diferencial ao incluir resoluções comentadas e orientações pedagógicas específicas, que ajudam os professores a entender as áreas de maior dificuldade e as habilidades adquiridas pelos alunos. “Nossa intenção com o SIMAIS é proporcionar uma base sólida para a tomada de decisões na educação pública, tanto a nível estadual quanto municipal. Dessa forma, garantimos que o ensino seja cada vez mais eficaz e inclusivo”, finaliza a secretária Socorro Batista.
O SIMAIS Alfa reforça a importância de uma alfabetização completa e inclusiva, alinhando as práticas pedagógicas às necessidades reais dos estudantes. Essa iniciativa contribui para uma educação pública de qualidade, que se adapta e responde aos desafios presentes nas salas de aula potiguares.
O Rio Grande do Norte apresentou uma taxa de alfabetização de 86,14% entre a população de 15 anos ou mais em 2022. Este é o dado apresentado pelo Censo Demográfico 2022, divulgado na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Os resultados divulgados também apontaram uma taxa de analfabetismo no estado de 13,86%.
No Censo de 1991, o RN alcançou a taxa de 65,1% da população alfabetizada. Na medição do ano 2000 a taxa era de 76,2% e em 2010, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), 82,2%. Em um intervalo de 30 anos, o RN reduziu 21% no número de analfabetos. O RN tem uma taxa de alfabetização superior aos estados do Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí e Alagoas.
Na avaliação da Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer, a análise das taxas do Rio Grande do Norte revela um cenário complexo e diversificado, destacando tanto os avanços significativos quanto os desafios persistentes. Com uma taxa de alfabetização geral de 86%, o estado demonstra um progresso notável. No entanto, uma análise mais detalhada dos dados por grupos raciais, sexos e faixas etárias revela disparidades históricas e que são fruto de estudo pela pasta.
A secretária de Educação do Rio Grande do Norte, Socorro Batista, aponta, diante dos dados apresentados, os esforços e os desafios enfrentados pelo estado. “Há progressos significativos que alcançamos em termos de alfabetização, especialmente entre os jovens e as mulheres. No entanto, reconhecemos que ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que todos os cidadãos, independentemente de raça, idade ou gênero, tenham acesso à educação de qualidade”, ponderou a secretária.
A análise por gênero mostra que as mulheres, de maneira geral, têm maiores taxas de alfabetização que os homens. A taxa de alfabetização entre as mulheres é de 88,69%, enquanto entre os homens é de 83,35%. Mulheres brancas lideram com uma taxa de 90,98%, seguidas pelas pardas (87,99%) e amarelas (87,02%). As mulheres pretas têm uma taxa de 82,91%.
Entre os homens, a taxa de alfabetização é mais baixa em todos os grupos raciais. Homens brancos apresentam uma taxa de 86,75%, seguidos pelos amarelos (83,76%) e pardos (82,25%), enquanto homens pretos têm a menor taxa de alfabetização, com 77,35%. Esses dados apontam que políticas de educação, seja do nível municipal, estadual e federal, devem levar em consideração esses cenários, especialmente em grupos raciais menos favorecidos, são necessárias para equilibrar esses índices.
A população indígena do estado apresenta uma taxa de alfabetização inferior à média geral, com 78,50% dos indígenas alfabetizados e 21,50% não alfabetizados. Esse dado indica a necessidade de programas educacionais mais direcionados e culturalmente adaptados para essa população, que enfrenta desafios específicos no acesso à educação. Essas políticas estão em discussão em nível nacional pelos fóruns representativos e pelo Ministério da Educação.
Quando examinamos as taxas de alfabetização por diferentes faixas etárias, percebemos uma tendência de diminuição com o aumento da idade. Entre os jovens de 15 a 19 anos, a taxa de alfabetização é de 97,28%, enquanto entre aqueles de 20 a 24 anos é de 96,96%. Nas faixas etárias de 25 a 34 anos e de 35 a 44 anos, as taxas de alfabetização são de 95,86% e 91,18%, respectivamente. No entanto, entre os indivíduos de 45 a 54 anos, a taxa cai para 82,66%.
Esses dados mostram que os jovens apresentam taxas de alfabetização muito altas, próximas a 100%, enquanto as taxas diminuem significativamente em faixas etárias mais altas. Este padrão sugere melhorias na acessibilidade e na qualidade da educação ao longo do tempo, mas também destaca a necessidade de programas de alfabetização voltados para adultos e idosos. Uma das ações da SEEC neste campo é a Política de Superação do Analfabetismo, que, em sua primeira edição, alfabetizou mais de 10 mil potiguares em 113 municípios.
A análise das taxas de alfabetização no Rio Grande do Norte mostra um panorama geral positivo, com altas taxas de alfabetização entre jovens e mulheres. A SEEC reconhece que persistem desafios entre certos grupos raciais, a população indígena e faixas etárias mais altas. As políticas públicas focadas na inclusão educacional para populações indígenas e idosos são essenciais para alcançar uma alfabetização universal. A identificação dessas disparidades permite a implementação de estratégias mais eficazes para garantir o acesso à educação de qualidade para todos.

Número de crianças que não sabem ler ou escrever dobrou de 2019 para 2022, aponta pesquisa
O Dia Nacional da Alfabetização, celebrado hoje, 14 de novembro, no Brasil, chama a atenção para uma piora alarmante do analfabetismo entre crianças de 7 a 9. Dados divulgados no dia 10 de outubro pelo relatório Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil, feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), apontam que o número de crianças que não sabem ler ou escrever dobrou de 2019 para 2022. O documento destaca a pandemia de covid-19 e suas implicações como um dos principais motivos para a piora do índice.
Segundo a pesquisa, a proporção de estudantes de 7 anos que não sabem ler ou escrever saltou de 20% em 2019, para 40% em 2022. A situação também é semelhante para alunos com 8 anos de idade, pois a taxa entre esses subiu de 8,5% em 2019 para 20,8% em 2022. Entre crianças com 9 anos de idade, o número de estudantes com dificuldades no aprendizado aumentou de 4,4% para 9,5%, de 2019 e 2022. Para o relatório, os índices apontam a urgência de políticas públicas em todos os níveis de governo para conseguir reverter esse quadro.
De acordo com a secretária de Assuntos Educacionais da CNTE, Guelda Andrade, as consequências trazidas pela pandemia na educação já eram esperadas, dada a forma que os governadores e o próprio Ministério da Educação (MEC) trataram o assunto. “Não existiu, em nenhum momento, uma política emergencial para atender a demanda daquele momento”, critica.
“As crianças que estavam no período da alfabetização não conseguiram ser alfabetizadas, pois as aulas foram remotas. Nós tivemos todo um processo onde muitas crianças não tinham aparelho de celular, e quando possuíam, o acesso à internet era complicado. Como que um professor consegue alfabetizar as crianças de forma online?”, questiona.
O especialista em políticas sociais do Unicef, Santiago Varella, em entrevista à Folha, destacou que os dados possuem influência direta com o fechamento das escolas durante a pandemia.
“É preciso um esforço concentrado para que esse passivo da pandemia não se prolongue”, alerta.
O relatório ainda destaca a discrepância entre a taxa de analfabetismo entre estudantes pretos e brancos. Segundo o estudo, o número de crianças brancas de 7 a 10 anos consideradas analfabetas subiu de 6,3% em 2019 para 15,1% em 2022. Já crianças para crianças negras da mesma faixa etária, subiu de 10,6% para 21,8% de 2019 para 2022.
Outro recorte da pesquisa aponta um crescimento no número de jovens de 4 a 17 anos que frequentam a escola na idade adequada desde 2016. Em 2022, 93,8% se encontravam cursando a série apropriada para sua idade, 3,4% possuíam dificuldades no acesso e outros 2,9% não frequentavam a escola.
Entretanto, para a Unicef, a questão ainda precisa ser trabalhada com mais cautela e contexto na interpretação dos dados em tempo de crise. Segundo o relatório “os dados da privação relativos a estar na escola na idade certa podem ser resultado da aprovação automática na pandemia”, enfatizou o documento.
Para Guelda, a privação de crianças e adolescentes não aconteceu em relação ao ensino, mas sim em relação à educação, contrariando o direito que a Constituição Federal assegura a todos. Para ela, projetos em âmbitos estaduais e municipais, com apoio do Ministério da Educação (MEC), para a recuperação da educação dos estudantes, deveriam ter sido colocados em prática logo após o abrandamento da pandemia.
“Ainda há tempo para isso, de resgatar essas crianças. E para isso, reforço que o processo de implantação e implementação de escolas de tempo integral são pontos fundamentais, pois, enquanto conseguirmos mantê-las em tempo maior no espaço da escola, conseguiremos suprir essa necessidade no processo de ensino dela”, defende Guelda. (Fonte: CNTE)
Abertas inscrições do processo seletivo para assistentes de alfabetização em Mossoró
A Prefeitura de Mossoró, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), publicou o Edital n° 01/2022, referente ao Processo Seletivo Simplificado (PSS) com vagas para Assistentes de Alfabetização que irão atuar no programa “Tempo de Aprender”, instituído pelo Ministério da Educação (MEC). Estão sendo ofertadas 27 vagas imediatas, além de formação de cadastro de reserva.
O edital está publicado na edição da última sexta-feira (11/3), do Jornal Oficial de Mossoró (JOM), a partir da página 5 (confira AQUI). Podem participar da seleção estudantes de Pedagogia, de qualquer período, ou profissionais já graduados nessa área. As inscrições foram abertas nesta quarta-feira (16/3) e devem ser efetuadas, exclusivamente, pelo e-mail sme.taprender@educacao.prefeiturademossoro.com.br, até as 23h59m do dia 20 de março.
Os interessados em participar do processo devem encaminhar, em anexo, a ficha de inscrição devidamente preenchida; curriculum vitae resumido, preenchido e pontuado de acordo com os títulos e experiências comprovados; laudo médico, no caso dos(as) candidatos(as) com deficiência; documentos pessoais; diploma (no caso de graduados ou com pós-graduação Stricto Sensu); declaração da universidade (quando se tratar de estudante), entre outros. A relação completa está disponível no JOM da sexta-feira passada, na página 6.
Os candidatos aprovados, depois de selecionados, serão convocados para atuarem no programa “Tempo de Aprender” pelo período de até oito meses, com início estabelecido pela Secretaria Municipal de Educação, período este que poderá ser alterado conforme normas e diretrizes estabelecidas pelo MEC. De acordo com Márcia Núbia Fonseca, coordenadora da comissão responsável pelo Processo Seletivo, os selecionados irão desempenhar suas funções em, no mínimo, uma turma e, no máximo, oito.
“Os assistentes irão auxiliar no processo de alfabetização de alunos de turmas do 1° e 2° Ano do Ensino Fundamental, em escolas contempladas com o programa. Tão logo eles assinem o Termo de Adesão, após cumprida a etapa de análise de currículo, os assistentes serão encaminhados para as escolas”, explica Márcia Núbia Fonseca.
Para atuação no programa, o Assistente de Alfabetização selecionado receberá, a título de ressarcimento de despesas com transporte e alimentação, ajuda de custo no valor de R$ 150,00 por turma, valor que, em nenhuma hipótese, confunde-se com remuneração por serviços prestados, já que a natureza da atividade é voluntária. O Processo Seletivo terá validade um ano, podendo ser prorrogado por igual período, por uma única vez. A aprovação do candidato gera apenas expectativa de convocação, que obedecerá ao limite de vagas existentes nas escolas da Rede Municipal de Ensino.
Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com
No Brasil, 11 milhões de pessoas são analfabetas. São pessoas de 15 anos ou mais que, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não são capazes de ler e escrever nem ao menos um bilhete simples.
Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014, que estabelece o que deve ser feito para melhorar a educação no país até 2024, desde o ensino infantil até a pós-graduação, o Brasil deve zerar a taxa de analfabetismo até 2024.
No Dia Mundial da Alfabetização, celebrado hoje, 8/9, a Agência Brasil conversou com professores que trabalham com a alfabetização de crianças sobre os impactos da pandemia na etapa de ensino e sobre a rotina desses profissionais.
Sem tempo para cansaço – O professor do terceiro ano do Ensino Fundamental da Escola Classe Comunidade de Aprendizagem do Paranoá, no Distrito Federal, Mateus Fernandes de Oliveira diz que ainda não conseguiu parar para sentir o cansaço que todo o período de pandemia causou até aqui. Nos últimos 18 meses, ele precisou lidar com diversas situações, incluindo famílias de estudantes com fome. Foi preciso que a escola se organizasse para distribuir cestas básicas nas casas dos alunos.
“A gente estava falando de falta de alimentos em casa. Famílias passando por necessidades. Não era possível cobrar de uma família que estava preocupada com alimentação que desenvolvesse um processo de escolarização em um momento como este. A gente entendeu que a escola pública, como parte do Estado, tem responsabilidade social. O Estado deveria cuidar das necessidades básicas, mas não estava dando conta. A escola teve que se mobilizar”.
Enquanto a escola esteve fechada, o professor chegou até mesmo a visitar os estudantes pessoalmente, levar para eles as atividades e verificar como estavam. A maior parte dos alunos não tinha acesso à internet e acabava não participando das aulas online. Agora a escola voltou em um modelo híbrido, intercalando ensino presencial e ensino remoto.
Oliveira percebe que as desigualdades se acentuaram. Aqueles alunos que vêm de um contexto familiar em que a leitura faz parte do cotidiano, em que há livros e revistas em casa, chegam agora ao terceiro ano do fundamental sabendo ler e escrever. Aqueles que moram em casas com pouca ou nenhuma leitura, às vezes sem mães e pais alfabetizados, acabam tendo um conhecimento aquém do esperado para crianças com 8 ou 9 anos de idade.
“Não dá para considerar este ano como só este ano. É pensar este ano e o seguinte como duas coisas contínuas, porque senão a gente se exaspera e atropela os processos. Atropela o tempo de entender o que a gente sentiu e o que está sentindo e de perceber que caminhos pode trilhar. A gente pode acabar até gerando o contrário do que gostaria. Em princípio, é preciso ter calma e, ao mesmo tempo, saber que não temos tempo a perder”.
Trabalho redobrado – Em Corumbá (MS), foi com cachorrinhas que a professora da Escola Municipal Almirante Tamandaré, Sonia Bays, conquistou os alunos e conseguiu medir o que eles haviam aprendido em um ano de pandemia. Ela dá aula para o primeiro ano do ensino fundamental, estudantes de 6 anos, que estão começando a ser alfabetizados. “Queria fazer algo mais lúdico. Acredito que as crianças são penalizadas por estar longe da escola. Criança em fase de alfabetização precisa da escola”, diz.
Diante das dificuldades de ensinar a distância e por meio de tecnologias, ela gravou um vídeo apresentando os próprios animais de estimação e pediu que os pais estimulassem os filhos a fazer o mesmo com seus bichinhos. “Na fase da alfabetização, a criança precisa de oralidade. Ela fala e depois transfere para o papel. É preciso estimular essa espontaneidade, essa fala das crianças”.
Ao pequeno grupo que estava sendo atendido presencialmente em horários especiais na escola, ela pediu que desenhasse e, se soubesse, escrevesse os nomes dos animais. Foi assim que avaliou o que os alunos sabiam e aquilo em que tinham dificuldades. Com base nas atividades desenvolvidas com as crianças, surgiu o trabalho Alfabetização e Infância em Tempos de Pandemia, apresentado em agosto no 5º Congresso Brasileiro de Alfabetização.
A maior parte dos alunos de Sonia está em situação de vulnerabilidade. Não é raro que as famílias tenham apenas um celular com acesso limitado à internet. A estratégia muitas vezes, durante mais de um ano de pandemia, era mandar vídeos por whatsApp, para que os responsáveis baixassem usando a internet do trabalho e, depois, mostrassem para as crianças.
No ano passado, ela chegou a conhecer os alunos pessoalmente, antes do fechamento das escolas por causa da pandemia. A turma desse ano, no entanto, era uma lista com 23 nomes e contatos. Sonia fez questão de entrar em contato com cada um por ligação e conversar com alunos e famílias. A logística não foi simples, alguns estudantes precisaram ir para uma área com wifi aberto, para receber a videochamada.
A escola foi retomando aos poucos o ensino presencial. Primeiro, apenas uma vez por semana para atender aos alunos que não tinham acesso a aulas remotas. Agora, a escola voltou às aulas presenciais em esquema de revezamento, com turmas reduzidas.
“Os professores, cada um de uma série, selecionaram os conteúdos que seriam prioritários, que seriam essenciais. Não vamos ter como dar conta de tudo. Estamos focando em leitura e escrita”, diz e acrescenta: “Os alunos não perderam o ano, eles ganharam a vida. Se antes já tínhamos déficit de aprendizagem, agora também temos, ainda maior. Teremos que redobrar o trabalho para vencer isso”.
Da sala para a tela – Depois de oito anos nas salas de aula no Rio de Janeiro, o professor Ricardo Fernandes assumiu, em 2019, o cargo de assistente de Gerência de Alfabetização e Anos Iniciais da Secretaria Municipal de Educação. No ano passado, com a pandemia, Fernandes passou a gravar aulas e podcasts para os estudantes da rede municipal, por meio da prefeitura, para garantir a educação remota. Ele, de repente, passou a alcançar um público muito maior.
“Acaba que você, que está produzindo uma vídeoaula, você não vira só o professor de uma turma. A sensação que dá é que você vira professor de muitas turmas. Essa foi uma estratégia muito importante para muitas crianças que estavam em casa”, diz.
Foi preciso, segundo Fernandes, recriar, com tecnologia, espaços alfabetizadores. Além de o formato ser um desafio, foi preciso também repensar o conteúdo de alfabetização, incluindo as famílias. “Todas as vezes que a gente pensa um material agora, a gente pensa que essa família vai assistir junto, vai ajudar na mediação desse conteúdo. Então as aulas agora são pensadas na perspectiva mais coletiva. Quem está escutando o que essa criança fala? Quais as perguntas que essa criança pode fazer para essa pessoa? É esse processo de uma educação coletiva que traz para a alfabetização um novo caráter”.
O professor conta que, durante a pandemia, as trocas entre os professores da rede de ensino ajudaram a desenvolver novas estratégias para chegar aos alunos e também ajudaram os próprios profissionais a não se sentirem isolados. Fernandes ressalta, no entanto, que mesmo com o esforço, há estudantes que precisarão de mais atenção. “A gente sabe que existe um público que historicamente está alijado do contexto de alfabetização e de educação, e esse contexto foi intensificado com a pandemia”.
Estudo encomendado ao Datafolha pela Fundação Lemann, o Itaú Social e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), divulgado em junho deste ano, mostra que mais da metade (51%) das crianças em processo de alfabetização na rede pública brasileira ficaram no mesmo estágio de aprendizado, ou seja, não aprenderam nada de novo durante a pandemia. Entre os estudantes brancos, 57% teriam aprendido coisas novas, segundo a percepção dos responsáveis. Entre os estudantes negros, esse índice cai para 41%.
Como responsável pela produção de materiais para a alfabetização, Fernandes diz que um dos objetivos é que os estudantes se sintam representados. “Não se pode alfabetizar sem olhar para a favela, sem olhar para o bairro desse aluno, sem olhar para o ritmo desse aluno, sem entender que é um sujeito que aprende quando está em casa, quando está em contato com outros sujeitos. Não se pode negar os aspectos culturais da cidade”, defende.
Unindo forças – Para a presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) no Paraná, Marcia Baldini, é necessária a união de forças de gestores, Poder Público, professores e familiares para garantir o ensino e a aprendizagem das crianças brasileiras. Marcia, que coordena o Grupo de Trabalho sobre Alfabetização da Undime, diz que a pandemia causou um prejuízo muito grande à alfabetização.
“É necessário ter políticas públicas nesse sentido, voltar o olhar para isso, porque se não tivermos nas nossas escolas um olhar focado em relação ao professor alfabetizador, a formação continuada, condições de trabalho, a conscientização das famílias para que esse aluno possa aprender, os prejuízos serão imensuráveis nos anos seguintes na educação fundamental, no ensino médio e até mesmo na educação superior, em que vamos formar os famosos analfabetos funcionais”.
Marcia explica que a alfabetização exige a mediação do professor. Isso porque gestos, movimentos labiais e materiais didáticos têm impacto na aprendizagem. Esses elementos acabam se perdendo no ensino remoto. “Os alunos que estão retornando [para o ensino presencial] apresentam muitas dificuldades, há alunos que esqueceram até mesmo como se escreve o nome”. Os dados mostram muito claramente, nos primeiros anos da educação infantil e do ensino fundamental, prejuízos sociais, econômicos, educacionais, que vão se estender ao longo da vida.
Retomada – Neste semestre, as escolas estão, aos poucos, com o avanço da vacinação no país, retomando as aulas presenciais, ainda que mescladas ao ensino remoto, no chamado ensino híbrido. Será preciso ainda, segundo a oficial de educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Julia Ribeiro, localizar os estudantes que não conseguiram assistir às aulas na pandemia.
“Fazer busca ativa desses meninos e meninas que não tiveram condição de se manter aprendendo durante a pandemia. Os dados apontam isso, a pandemia atingiu meninos e meninas que já eram mais vulneráveis. Quem já estava fora da escola ficou cada vez mais longe, e quem estava na escola, mas sem condições de aprender em casa, acabou sendo excluído desse direito”.
Pesquisa divulgada este ano pelo Unicef mostra que o número de crianças e adolescentes sem acesso à educação no Brasil saltou de 1,1 milhão em 2019 para 5,1 milhões em 2020. Desses, 41% têm entre 6 e 10 anos, faixa etária em que ocorre a alfabetização.
“A alfabetização é fundamental para a manutenção desse menino ou menina na escola. É nessa faixa etária que é criado maior vínculo, inclusive com a escola. Ciclos de alfabetização que são incompletos podem acarretar reprovações e abandonos escolares nas demais etapas, nas etapas subsequentes”, ressalta.
Para Júlia, sobretudo na pandemia, quando as crianças tiveram aprendizagens diferentes, todas as etapas escolares devem se comprometer a garantir o aprendizado dos estudantes, garantir que aprendam a ler e escrever.
“A gente precisa de uma corresponsabilização de todo o sistema educacional no sentido de garantir que cada criança e adolescente, independentemente de idade, tenha as oportunidades necessárias que lhe garantam alfabetização completa, que lhe possibilite que esses meninos e meninas tenham maior liberdade, maior autonomia, que estejam incluídos na sociedade, que tenham mais acesso a oportunidades profissionais e pessoais, que tenham acesso a seus direitos”.
Ministério da Educação – No dia 30 de junho deste ano, o MEC lançou o Sistema Online de Recursos para a Alfabetização, apelidado de Sora. A plataforma foi desenvolvida para apoiar professores e trabalhadores da educação no planejamento e execução de atividades de ensino para alunos que estão aprendendo a ler e escrever.
O sistema traz estratégias de ensino ou como o conteúdo pode ser ensinado. Elenca também propostas de atividades a serem aplicadas em salas de aula, ferramentas que são utilizadas na consolidação da apreensão dos conteúdos.
A plataforma disponibiliza recursos adicionais diversos que auxiliam os professores. Podem ser acessadas, por exemplo, imagens que ajudam a fixar as letras do alfabeto. Será incluído também um módulo com sugestões de avaliações para verificar a aprendizagem do conteúdo. (Agência Brasil)
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