Faltavam poucos minutos para meio dia deste sábado. O sol a pino castigava os transeuntes, gente que perambulava de loja em loja, disputando a pouca sombra com barracas e badulaques. O homem,ao volante, ao avançar pela Bezerra de Menezes, avistou que um veículo se preparava para deixar o local e abrir uma tão sonhada vaga de estacionamento.
Logo que o carro saiu e ele se preparava para estacionar na nova vaga surgida, foi surpreendido com um carro popular passando à sua frente e ficando com a vaga. O homem esperou que o motorista – um senhor na casa dos seus 60 anos – descesse para “parabenizá-lo” por atitude tão desrespeitosa. Como que envergonhado, o motorista demorou a sair do veículo.
O homem, então, saiu à busca de uma nova vaga. Encontrou a cerca de 900 metros do local inicial e muito distante de onde precisava ir. Apesar do sol causticante, estacionou e saiu em direção ao seu destino. No caminho, avistou um carro, possante, de luxo. Estava na vaga destinada a deficientes.
Procurou, em todo o veículo, o adesivo que comprova que o proprietário faz jus ao benefício. Não encontrou.
Ao chegar na loja, encontrou o motorista que havia tomado sua vaga no estacionamento. Encarou-o nos olhos. Não teve receptividade. O motorista não teve coragem de direcionar seu olhar para o campo de visão do homem.
Nos dois casos, o homem percebeu que havia nos veículos propaganda política de um candidato machista, preconceituoso, racista, misógino e desonesto. Aquele que defende a morte dos adversários. Que tripudiou das pessoas que morreram sem ar durante a pandemia. Que disse que só não estuprava uma mulher porque ela era feia. Que está saqueando o país e tapa os olhos dos seus seguidores com uma bandeira, fingindo patriotismo. Talvez não seja apenas coincidência.