* José Ronaldo
É quase impossível caminhar pelas unidades acadêmicas da UERN sem notar a presença de cães e gatos abandonados. Mais que um incômodo ou uma cena trivial, esses animais expõem uma ferida social: o abandono, fenômeno que cresce nas cidades brasileiras, é crime previsto em lei e, ainda assim, segue naturalizado. Fingir que o problema não existe, ou tentar removê-lo à força, não é somente ineficaz — é eticamente indefensável.
Diante dessa realidade, integrantes da própria comunidade universitária vêm se mobilizando de forma admirável. Voluntários e ativistas dedicam tempo, afeto e recursos à alimentação, vacinação e castração de animais que não são seus, mas pelos quais assumem responsabilidade. É hora de reconhecer: esse trabalho não é improviso — é ação cidadã movida por uma ética do cuidado que a comunidade acadêmica deve aprender a valorizar.
A recente proposta de Política Institucional de “Manejo Ético e Convivência com Animais nos Campi”, apresentada à reitoria da Uern, representa um avanço decisivo. Inspirada em experiências bem-sucedidas no Brasil e no mundo, a política propõe ações como o método CED (Captura, Esterilização, Devolução), campanhas educativas, pontos controlados de alimentação e a criação de uma comissão permanente com representação da sociedade civil. Trata-se de uma resposta organizada, técnica e respeitosa a um desafio complexo.
Animais abandonados não desaparecerão por decreto. Mas com diálogo, responsabilidade e empatia, é possível construir uma convivência equilibrada — e a universidade, enquanto espaço de formação e compromisso social, tem o dever de liderar esse processo.
* Professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)