* Márcio Alexandre
O Mossoró Cidade Junina (MCJ) é um evento grandioso. E não é de hoje. Há mais de 25 anos sendo realizado é natural, e é o que se espera, que siga crescendo. Patrimônio dos mossoroenses, é assim que deve ser tratado. Independente de quem esteja aboletado na giroflex do Palácio da Resistência.
A edição desse ano, esperava-se que fosse maior que a de 2019. Naturalmente já o seria, haja vista termos ficado dois anos sem o evento. Sob a narrativa megalomaníaca de quem habita a sede do governo municipal, o MCJ 2022 foi o maior do planeta. Gigantesco. A oitava maravilha do mundo. Verdadeiro Colosso de Rodes. Visível até da Lua. A olho nu. É assim que a gestão Allyson Bezerra (Solidariedade) vende a edição realizada sob seus auspícios. Com todos os exageros que se possa observar, não há nenhum crime nisso. Talvez seja ilegal mentir.
Ora, tendo realizado o maior São João do Mundo de todos os tempos causa estranheza que a gestão municipal organize uma comitiva para ir realizar visitas técnicas às festas juninas de Campina Grande (PB) e Caruaru (PE). É importante que se conheça eventos correlatos, mas a justificativa apresentada não se justifica. Pelo menos depois de todas as loas tecidas pela gestão Allyson ao MCJ organizado sob sua égide.
É importante observar que em termos de dias de evento, a edição de 2022 foi um dos mais curtos dos últimos tempos (para usar uma expressão que as narrativas oficial e oficiosa gostam de utilizar). O evento, iniciado em 4 de junho, termina amanhã. Findando antes de terminar junho. Isso não é problema. É só uma coincidência. E qual? O São João de Caruaru segue até 2 de julho. O de Campina Grande segue até 10 de julho. Cabe-se, aqui, talvez por preciosismo, um questionamento: o MCJ 2022 foi encurtado para dar tempo à comitiva curtir as visitas técnicas?
Isso, no entanto, é pequeno diante de questões bem maiores. Então vamos lá: quantas pessoas comporão o grupo? O release da prefeitura revela que a “visita técnica do prefeito será ao lado de secretários municipais que atuam diretamente na organização do evento, como a Cultura, Infraestrutura e Segurança”. A conjunção “como” indica que o rol aí é exemplificativo. Sendo assim, provavelmente irão mais pessoas. Quantas? Quem?
Se as festas a serem visitadas acontecem ainda em dois finais de semanas adiante, quando a comitiva levantará voo? Ficarão quantos dias fazendo as visitas técnicas? Qual o custo desse trabalho aos cofres municipais?
Obviamente que esse jornalista perguntou à prefeitura sobre isso. Infelizmente, como acontece todas as vezes em que pergunto sobre fatos importantes, coincidentemente não nos foram oferecidas as perguntas. Feitas por mim, mas de interesse de todos. Por enquanto, tudo está no campo das coincidências. E das aparências. Gestão pública não se faz respondendo com achismos ou não respondendo. O aparente não se sustenta no campo da necessidade. Não se justifica no universo da legalidade.
É preciso ter transparência. Para que não se possa dizer que Mossoró mudou para continuar sendo o que sempre foi. Coincidentemente, nas gestões anteriores transparência não era um princípio, um valor e uma diretriz bem cuidadas. Hoje, menos ainda.
* Professor e jornalista
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