Por Sérgio Santana *
Até que ponto, pode-se estabelecer uma ligação entre Belchior, consagrado cantor e compositor brasileiro conhecido por suas letras introspectivas e poéticas, e Diógenes de Sinope, conceituado filósofo da antiguidade clássica.
Diógenes era conhecido como “o cínico”, uma expressão que simbolizava seu estilo de vida minimalista e sem a necessidade de ostentar riquezas exageradas. De igual modo, Belchior expressou uma observação crítica sobre a sociedade e uma busca sincera por um significado profundo no campo da existência humana através de suas canções pungentes.
Assim como Diógenes, que ironicamente percorria as ruas à luz do dia com uma lanterna em busca de um homem que vivesse em sua essência, Belchior também nos indicava para contemplarmos nossos princípios e descobrirmos nossa identidade pessoal em meio ao caos do consumismo da existência moderna. Belchior e Diógenes desafiaram as normas sociais e desafiaram o conceito do que é considerado “normal” ou “aceitável”. Seus pensamentos e questionamentos, embora expressos em momentos diferentes, ressoam com a importância da introspecção e da busca por uma jornada autêntica, desapegada das expectativas e pressões da sociedade.
Tanto Belchior quanto Diógenes nos obrigam a olhar além das aparências superficiais, desafiar nossas crenças arraigadas e abraçar nossa individualidade. Através de sua música, Belchior nos encoraja a mergulhar no âmago de nossa existência e apreciar o que tem realmente significado, mesmo em um mundo frequentemente caracterizado pela superficialidade e ilusões enganosas.
Da mesma forma, o estilo de vida pouco convencional de Diógenes serve como um lembrete para priorizar o que realmente importa em meio a uma sociedade que muitas vezes valoriza o glamour e a busca incessante pelo holofote iluminado pela estrela da fama e do dinheiro. Belchior e Diógenes são provocadores profundos, cada um oferecendo suas perspectivas únicas. Suas obras nos obrigam a contemplar as complexidades da existência, a dinâmica da sociedade e a busca de um senso de identidade honesta e genuína.
Essas mensagens profundas ressoam ao longo do tempo, servindo como uma fonte atemporal de inspiração para os indivíduos em sua busca por uma conexão profunda consigo mesmos e com o mundo ao seu redor. Trazendo também para o assunto. Em seus ensaios, Nietzsche discute o conceito de filosofia como um remédio para a alma. No entanto, é importante notar que esse argumento a respeito do papel da filosofia. Tanto Platão quanto Aristóteles já haviam articulado essa noção em suas respectivas obras.
Com base nesses argumentos, visando evitar redundâncias e prolixidades incessantes, não há como evitar o juízo de valor do redator que o escreve. Belchior, é um curador do espírito, um pensador que desafiou as normas de sua época. Em suas palavras: “Sons, palavras, são navalhas.” Essa declaração encapsula a essência do papel do filósofo enquanto provocador.
Belchior superou a mera imagem de cantor; era apenas uma fração de sua verdadeira essência. Ele encarnou o papel de um cínico genuíno, deixando um impacto duradouro que se estendeu muito além da esfera da música. Belchior é uma síntese da essência de Diógenes de Sinope, quando proclamou: “Eu sou apenas um rapaz latino-americano
Sem dinheiro no banco, sem parentes importantes
E vindo do interior” Sem dúvida, Belchior é um verdadeiro provocador, uma figura que nunca se esquivou de desafiar a arte predominante de seu tempo. “Mas sei que nada é divino. Nada, nada é maravilhoso. Nada, nada é secreto. Nada, nada é misterioso, não.”
* Jornalista