* Márcio Alexandre

Ontem foi o último dia para que deseja disputar algum cargo eletivo em outubro próximo “arrumar um partido” para chamar de seu. A expressão é essa mesmo. Quem conseguiu uma vaga em algum ninho partidário ficará por lá pelo menos até o fim da disputa. E olhe lá.

Mesmo com as regras tendo endurecido o entra-e-sai em partido, o troca-troca de sigla, o fim da janela partidária reafirma o que todo mundo sabe: quase ninguém está nem aí para a ideologia partidária, com as bandeiras do partido, com a trajetória das legendas. O que se quer mesmo é ter como concorrer.

Com raras exceções, o que se viu foi uma tsunami camaleônica assustadora. Bolsonarista “virou” esquerdista, “comunista” se metamorfoseou de pelista. Um pé no partido, coração e mente na incoerência.

De repente, quem nunca plantou uma árvore transmutou-se em defensor da natureza. Quem ignorava a inclusão agora faz até discurso em Língua Brasileira de Sinais(Libras). Quem tinha causa a abandonou para ter ganhos. Políticos, financeiros, sociais. Quem era abandonado se ofereceu para continuar sendo nada aos olhos de quem o abandonava.

A grande surpresa da janela partidária é apenas a mudança de discurso. E vai ser interessante ver o contorcionismo verbal nesses tempos de polarização, de divisão, do nós contra eles. Que essas mudanças inesperadas sirvam ao menos para amenizar os extremismos.

* Professor e jornalista

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