* Márcio Alexandre

Era uma mercearia de grande referência no Alto de São Manoel. Nos anos 80 e 90, muitos a ela acorriam. Não só para comprar. O local era também um ponto de encontro. Um local de sociabilidades. Como referência afetiva urbana.

Com a expansão dos supermercados, a freguesia foi rareando. Para não sumir, virou uma espécie de armazém de secos e molhados. Depois, obrigada por essas transformações que a sociedade estimula, transformou-se em distribuidora de bebidas. Para consumo in loco ou para delivery. O velho e o novo confundido pelos neologismo e a desvalorização pátria.

Essas metamorfoses mostram o quanto o seu fundador gostava de estar ali. Não baqueou nenhuma das vezes que se viu obrigado a mudar o foco do negócio, mesmo as prateleiras acomodando garrafas ainda dos tempos áureos. Até a poeira tinha um significado especial para ele.

Adoeceu. Desenvolveu uma dessas doenças crônicas. E seguiu no batente ate perder a batalha para a enfermidade. Se tivesse abandonado o local de trabalho certamente teria resistido pouco tempo. Apesar de toda a garra, de não se entregar à doença, foi vencido por ela.

Rápido mesmo foi o tempo em que os herdeiros se livraram do imóvel. Poucas semanas após a partida do patriarca, o prédio foi demolido. Hoje, uma grande construção toma forma no terreno. Moderno. Imponente. Grande.

Na avenida Augusto Severo, um casarão antigo resistiu ao tempo, ao descaso e ao mau uso por notívagos. Foram anos abandonado, mas preservando suas características mais fortes. Mesmo sem manutenção. Apesar de ruir um pouco a cada dia.

Até que aqueles que não resistem a uma especulação imobiliária contribuíram para o seu fim. Foi derrubado, mesmo importante para a memória histórica da cidade. Veio ao chão, apesar de tombado pelo patrimônio histórico do município. Por aqui, para muitos gestores, a fé no dinheiro é o que os move.

Ao lado, a Estação das Artes também foi atingida pela insensibilidade de quem governa. A gestão municipal lhe tirou a marquise. Ficou sem chão, mesmo tendo ganho um piso novo. Foi desfigurada. Sua história, a lei, a preservação, o tombamento. Tudo foi ignorado em nome da vontade de um. Os que se dizem modernos destroem tudo que faça referência ao passado. Exterminadores da memória. Apagadores da história. Não há sentimentos que os façam preservar.

* Professor e jornalista

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