* Márcio Alexandre
Recebi essa semana, de um protestante, desses chauvinistas neopentecostais – chauvinismo de butique, pentecostalismo de ocasião – , por whatsaap, um vídeo de um show de um cantor sertanejo no qual o decantado artista pergunta sobre quem votaria em determinados candidatos. Para o emitente, essa simples sondagem é a verdadeira pesquisa porque, no seu entender, a maioria teria demonstrado pretensão de votar no genocida miliciano que hoje ocupa a Presidência da República.
Tentei ponderar que, considerando as características do cantor – um camarada ingrato que traiu a mulher, que abandonou o irmão e que acha que nenhuma dessas duas pessoas e outras tantas que o ajudaram não tem mais nenhuma importância para ele ter trilhado o sucesso – um show dele tende a atrair gente à sua imagem e semelhança: ingrata, infiel e insensível. E que, por tabela, via de regra, são (maus) atributos encontrados em quase todos os que ainda insistem em estar ao lado do genocida.
Ele me perguntou: isso é jornalismo? Imaginem: o cara me manda um vídeo e reclama porque comentei a respeito. Depois, não satisfeito, quer confundi a minha opinião pessoal a respeito de algo que até então só tem nós dois envolvidos. Como se todo e qualquer enunciado que emito, oral ou verbalmente, se configurasse em exercício da minha prática profissional. Em qualquer circunstância de tempo, lugar, espaço e/ou meio.
Seguiu sua cantilena, agora a desqualificar um candidato sobre o qual, até então, ninguém havia falado. E não deveríamos. Ora, se ele me apresenta – com clara intenção de me convencer – um vídeo no qual um cantor faz campanha por um determinado candidato e eu apresento argumentos em que mostro porque não votei, não voto nem votaria nele, cabia a ele, entendo eu, mostrar as qualidades do seu (m)ungido.
Não, o camarada não o fez. Optou por dizer que um outro candidato seria isso, aquilo e aquilo outro. Coincidentemente, todos os erros, crimes e ilegalidades que ele tentou atribuir ao seu suposto adversário, são cometidos exatamente por quem ele defende. Nem todos se libertam quando conhecem a verdade.
De lá para cá, tem enchido a memória do meu celular com seus vídeos. Todos, com fragmentos de falas, reportagens, entrevistas, sempre editadas com a intenção de me convencer de que é bom ter desemprego gritante, milhões de pessoas passando fome, de que os filhos do presidente não são tão bandidos quanto ele, e que o tudo o que estamos passando é fruto dos governos anteriores e blá, blá, blá e blá e que o segundo mandato do messias será tão abençoado quanto o atual. Vade retro. Ah, e para que ele não esqueça, isso aqui sim é jornalismo. Chama-se artigo de opinião.
* Professor e jornalista
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