A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) teve duas importantes conquistas nos últimos meses, a sua autonomia financeira e o Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCR) dos seus servidores docente e técnicos. A Associação dos Docentes da UERN (ADUERN) teve papel fundamental para que elas virassem realidade. Nessa Conversa de Sábado, o presidente da ADUERN, professor Neto Vale, fala sobre como foram as lutas para que tais conquistas se materializassem.
BLOG NA BOCA DA NOITE – A UERN experimentou, nos últimos meses, duas importantes conquistas, sendo uma delas, a sua autonomia financeira. A seu ver, porque demorou tanto?
NETO VALE – A demora tem a ver com o perfil conservador dos gestores, à frente do Palácio Potengi. Quer dizer, a falta de compromisso com a educação superior. Alguns tinham a UERN como uma extensão do Palácio, então não era vantagem “perdê-la”. A UERN sustentou durante muito tempo os grupos políticos locais, é só pesquisar. A nível de reitor/a, quem colocou a bandeira da autonomia como prioridade? Lembro do ex-reitor Milton Marques, dando liberdade aos segmentos, leia ADUERN, para construir um projeto de autonomia. A ADUERN é a grande responsável por manter esse tema sempre vivo. Neste sentido, destaco o importante papel do professor João Batista Xavier, a mais expressiva liderança da autonomia. Por outro lado, sejamos justos, autonomia só foi possível pelo perfil democrático da gestão Fátima Bezerra.
BLOG NA BOCA DA NOITE – Outra conquista importante foi a aprovação dos planos de carreira, cargos e salários dos servidores docentes e técnicos. O que isso representa na prática?
NETO VALE – Aqui cabe um registro, sob pena de enterrarmos a verdadeira história da luta pela “atualização” do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração – PCCR. Nós temos um plano, não podemos “cancelar” o Plano de 1989. A verdade é que ele não dava conta das mudanças que ocorreram na universidade brasileira, especialmente, não só, mas quanto a Carreira. Por exemplo, em seis anos o docente doutor(a) chegava ao final da carreira trazendo um prejuízo financeiro enorme, além do desânimo. Muitos colegas foram para outras IES. O PCCR representa uma injeção de ânimo, reafirma uma série de direitos e perspectivas de ascensão/progressão/capacitação. É uma grande conquista, num cenário de tantos ataques à universidade brasileira, em especial, à ciência e aos direitos trabalhistas. A conquista da autonomia e dos PCCRs fortalece a luta pela universidade pública.
BLOG NA BOCA DA NOITE – A ADUERN teve papel fundamental nessa conquista. Que outras instituições ou personagens você destacaria nesse processo?
NETO VALE – Na hora de ir às ruas defender um novo Plano, melhores condições de trabalho e salário, denunciar a precarização e o adoecimento do trabalho docente, muitas vezes faltou gente ou poucos estavam à frente. Já na hora da conquista, não falta.
Mas, quem conhece a história, não tem como não destacar o protagonismo histórico da ADUERN. Muitas vezes, a ADUERN fez a luta solo, em defesa da atualização do Plano.
Destaco o Congresso, realizado em Patu, em 2012, na Gestão do professor Flaubert, ali se desenhou, com poucas modificações, o PCCR aprovado pela Assembleia. Destaco os esforços das gestões dos professores Lemuel, Geraldo Carneiro, Rivania, Patrícia. Esse Plano já teve na Governadoria noutras ocasiões, e quem lutava para o ver aprovado? A ADUERN, comandada pelas lideranças citadas. A última grande batalha teve até spray de pimenta. Onde estavam os heróis de hoje? Estavam submissos aos interesses do Palácio Potengi. Outro importante aliado dessa luta foi o ANDES-SN, suas orientações foram fundamentais para estruturação do PCCR, como é hoje. O PCCR é uma conquista histórica e pertence às várias gestões da ADUERN. Claro que foi importante a unidade, o apoio de todos os demais segmentos da UERN, não podemos ser injustos. Mas, o diferencial foi a mudança do inquilino do Palácio Potengi porque sempre lutamos por esse momento. A presença de uma gestora do campo democrático e popular proporcionou essa grande vitória. A professora Fátima Bezerra, o seu compromisso foi peça chave. A aprovação do PCCR é uma vitória, mas é preciso fazer alguns ajustes, nas etapas seguintes, especialmente corrigindo o início da carreira. Para quem tem até 10, …, 15 anos de UERN, o PCCR é desanimador. É preciso melhorá-lo.
BLOG NA BOCA DA NOITE – Quais são, na sua opinião, os desafios da universidade daqui pra frente?
NETO VALE – Demonstrar que a UERN está preparada e consciente, que a autonomia não tem respostas para tudo, que é necessário planejar a médio e a longo prazo. A UERN precisa primeiro resolver seus velhos problemas estruturais. A falta de investimentos, nas últimas décadas penalizou a UERN. A tarefa é concluir o que ficou pelo caminho, e só depois pensar em expandir. Tem obra esperando há décadas para ser concluídas. Um novo concurso público.
BLOG NA BOCA DA NOITE – Mudando um pouco de assunto: você será candidato nas eleições de outubro próximo?
NETO VALE – Não. Meu compromisso é com minha categoria. Junto com os colegas da Direção, vamos trabalhar para ampliar as conquistas para nossa categoria, na campanha salarial de 2022 que se avizinha.
BLOG NA BOCA DA NOITE – Como o diretório no PC do B tem se organizado com vistas à próxima disputa eleitoral?
NETO VALE – A pessoa mais apropriada para falar sobre o projeto eleitoral do PC do B é o professor Paulo Silva, o seu presidente municipal e pré-candidato a deputado estadual.
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