Criação de cargos comissionados para peritos em órgão de combate à tortura no RN foi pedido do MP seguindo orientação da ONU

por Ugmar Nogueira
A+A-
Reiniciar

 

A criação de cinco cargos comissionados para peritos no Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura (MEPCT) – órgão que o Governo do Estado pediu que seja instalado através de um projeto de lei enviado à Assembleia Legislativa – foi um pedido do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN).

Documentos obtidos pelo PORTAL DA 98 FM mostram que foi o Ministério Público que pediu a inclusão dos cargos comissionados no projeto – o que contraria críticos da proposta, que atribuem ao Governo do Estado a iniciativa pelo formato de contratação dos servidores do órgão.

O projeto de criar no RN um órgão para combater tortura nos presídios foi enviado pelo Governo do Estado à Assembleia em fevereiro de 2022. Na mensagem original, a governadora Fátima Bezerra (PT) estabelece que os cargos dos peritos seriam criados através de lei complementar posterior – que definiria o formato do ingresso dos peritos, como concurso público.

Contudo, em abril do mesmo ano, o MPRN sugeriu mudanças no texto, propondo que fosse estabelecida a previsão dos cargos comissionados. O novo projeto, com os ajustes, foi enviado em abril deste ano e está em tramitação na Assembleia.

O promotor de Justiça Wendell Beetoven Ribeiro Agra, da Promotoria de Controle Externo da Atividade Policial, argumenta na recomendação que a criação do MEPCT sem a previsão dos cargos de peritos seria “inócua”.

“Criar o órgão sem a simultânea criação dos cargos dos seus respectivos membros (peritos de prevenção e combate a tortura) resultaria na absoluta ineficácia do próprio Mecanismo, que ficaria acéfalo. Haveria, assim, desde o princípio, o esvaziamento do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura, existiria como órgão apenas no papel”, afirma Wendell Beetoven.

Ainda segundo o promotor, a instalação dos órgãos estaduais de prevenção e combate à tortura deve seguir modelo previsto em um protocolo adotado pelo Brasil para aderir à Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, da Organização das Nações Unidas (ONU).

Foi através dessa convenção que foi criado o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT). O mesmo documento estabelece as regras que devem ser seguidas pelos estados que decidam criar órgãos locais com a mesma finalidade.

“A uniformidade dos mecanismos estaduais e distrital é necessária para eles sejam integrados ao Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT). Desta forma, a liberdade dos Estados e do DF é para a criação dos seus respectivos mecanismos, mas o seu funcionamento deve, necessariamente, seguir o padrão nacional (e internacional)”, afirma o promotor de Justiça.

Por fim, Wendell Beetoven cita que o formato de cargos comissionados para peritos do MEPCT já foi chancelado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Órgão é criticado por entidades

Entidades ligadas à segurança pública reclamam que o órgão de prevenção e combate à tortura teria “superpoderes”, inclusive para fiscalizar a atuação de policiais – o que eles entendem que seria desnecessário, já que o Ministério Público cumpre esse papel, muito embora o próprio MPRN não se posicione contra.

Segundo o projeto, o Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura seria composto por 5 peritos, escolhidos por processo seletivo (modalidade diferente de concurso público) e nomeados pela governadora Fátima Bezerra (PT) para um mandato de três anos, permitida uma recondução, sem a possibilidade de serem exonerados por decisão unilateral do governo.

Essas pessoas precisam ter “notório conhecimento e formação de nível superior, atuação e experiência na área de prevenção e combate à tortura e a outros tratamentos ou penas cruéis”.

Esses peritos teriam, de acordo com a proposta, plenos poderes para inspecionar a situação nos presídios do Estado e até requerer instalação de procedimentos criminais e administrativos para apurar denúncias de tortura. É assegurado aos peritos, ainda, acesso irrestrito às dependências prisionais e a possibilidade de entrevistar presos e fazer perícias.

FONTE: https://98fmnatal.com.br/destaque_mais/criacao-de-cargos-comissionados-para-peritos-em-orgao-de-combate-a-tortura-no-rn-foi-pedido-do-mp-seguindo-orientacao-da-onu/

Publicidade

Postagens relacionadas

Deixe um comentário

* Ao usar este formulário, você concorda com o armazenamento e o manuseio dos seus dados por este site.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Assumiremos que você está ok com isso, mas você pode optar por não participar se desejar. Aceitar Leia mais