* Márcio Alexandre

 

Aparentava ter 50 e poucos anos, embora a idade cronológica possa ser bem menor. A fisionomia cansada denuncia o peso do sol sob os ombros e as dificuldades da vida sobre as têmporas. Branco, barba malfeita, cabelos desgrenhados. Poucas palavras nos lábios e um sorriso discreto no rosto.

Nos suportes dos retrovisores dos carros que param no semáforo, ele coloca um pequeno saco plástico com algumas guloseimas para venda. É mais um desses que tentam ganhar o sustento nos sinais de trânsito comercializando balas e outras baganas. Para o governo federal, mais um empreendedor. Para a realidade, mais um pai de família abandonado pelo poder público.

O invólucro é acompanhado de um pequeno bilhete com dizeres impressos, pedaço de papel bem cortado e um pedido. O apelo é muito comum:  compre-me umas balas. A justificativa, no entanto, chama muito a atenção: pra não ter que morar na casa da sogra.

Baixei o vidro do carro, lhe entreguei o dinheiro cobrado pelo produto. Logo que o recebi, corri os olhos no comunicado-propaganda. “Vendo balas para não ter que ir morar com minha sogra”. Li rápido, a ponto de conseguir olhar para o vendedor ao seu término. Percebi um risinho irônico na face. Ele percebera que eu fazia uma leitura curiosa sobre o porquê de tal justificativa.

Penso que valeu demais o marketing. E também a intenção. Tanto se for para evitar dar despesas à genitora de sua companheira, quanto para impedir eventuais dissabores na convivência com a sogra. Imagino que pela forma como muita gente faz piada com essas senhoras, suas vendas terão mais sucesso do que se possa imaginar. Uma maldade talvez, a piada. A ideia, uma sacada.

O brasileiro é pródigo em criar alternativas para conquistar a sobrevivência. E o faz das maneiras mais sugestivas possíveis. Às vezes, expondo com sutileza, nossas pequenas idiossincrasias. Na maioria dos casos, não perdemos a piada. Em outros, ganha-se em vendas.

 

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

 

One thought on “Fugindo da casa da sogra

  1. Vamos ajudar a sogra, ela já tem estresse demais.
    Compramos as balas e ajudamos no bem estar dela. Rsrs

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