* Márcio Alexandre

 

Na recepção do centro clínico, o paciente tenta agendar uma consulta. Pensa, iludido, que o esforço de pagar um plano de saúde lhe trará mais alegria do que estar na espera do sistema público. A decepção, então, é lancinante.
_ Doutora Esperancilda já está com a agenda do mês cheia, revelou a atendente, sem revelar quando a tal agenda encheu. Não era nem dia 10 do mês em curso.
_ Reabre quando?
_ No início do próximo mês.
_ Início tipo dia primeiro?
_ Tipo início, até o dia quatro. Mas fique atento, pois logo as vagas são preenchidas.
_ E como vou saber que a agenda reabriu?
_ Vai reabrir no começo do mês. E logo todo mundo preenche as vagas.
_ E como eu e todo mundo vamos ficar sabendo que a agenda reabriu?
_ Fique atento ao aplicativo.
_ O aviso vai ser por lá?
_ Não. É que se alguém desistir o aplicativo avisa.
Não disse mais nada. Saiu com um sorriso discreto no canto da boca, e os olhos marejados de tristeza.

 

Ilustração: Getty Images

 

One thought on “Miniconto de horror

  1. Acontecendo mesmo assim. E interessante, que saem caladinhos sem reação. Presenciei uma pessoa saindo com uma receita, quando era pra ter sido medicada.

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