* Por Márcio Alexandre

“Nasci de novo”, dizem os que passaram por uma grande provação. Aqueles que sobreviveram a um infarto. Alguns dos que se curaram de uma doença grave. Quem ficou incólume após um AVC. Os que escaparam de um grave acidente. Todos os que não entraram no avião que caiu. Muitos dos que não sucumbiram no navio que afundou. Para esses, foi dada “a segunda chance”. Uma nova oportunidade. Uma prorrogação da existência por aqui.

De fato, na percepção ocidental de vida, morte e pecado, estão todos esses vivendo o “segundo tempo”.

Mas intriga que só nos vejamos com uma nova chance após escapar do perigo. Só nos vermos novos depois de um grande perrengue. Só nos acharmos merecedores da novidade pós-sofrimento.

Talvez nos tornemos outro na bondade, na felicidade, na alegria.

Por que não achamos que nascemos de novo quando supera um paradigma? Quando vencemos um preconceito? Quando atingimos um objetivo na vida? Quando construímos um novo motivo para sorrir? Quando encontramos um novo amor? Quando fazemos uma boa ação? Quando voltamos a brincar? Quando aprendemos um novo fazer?

Nascer de novo somente após escapar de um problema é como se tivéssemos sido “resetados” e, a partir de agora, prontos para cometer os mesmos erros, realizar os mesmos desatinos, cair nas mesmas esparrelas. Uma segunda chance para sermos exatamente ao que éramos antes.

Assim não nascemos de novo. Apenas renovamos as forças para continuarmos sendo quem nunca deixamos de ser. E, nesse caso, uma nova chance parece ser apenas um grandissíssimo desperdício.

* Professor e jornalista

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