* Márcio Alexandre
Ela trazia as bandeiras de todos os times envolvidos na disputa. Apresentava ainda os estádios onde os jogos acontecem. Também mostrava curiosidades sobre a copa, artilheiros de cada edição, entre outras preciosas informações. Tudo colorido. Às vezes em papel couchê. Noutras, em peso 60. Muita gente entrava em algumas lojas (patrocinadores do projeto), apenas para pegar uma unidade delas.
As tabelas da copa sumiram. Desapareceram. Não há uma sequer, em canto algum. Ninguém se interessou em produzi-las, mas muita gente está com saudades delas.
Vinham como encartes de jornais impressos. Hoje, pouca coisa está na impressão. Impressiona que tudo tenha mudado tanto.
Preenchê-la a cada jogo finalizado era uma festa. Quando se acertava o placar, então, uma euforia. Colocar a pontuação também. As tabelas traziam um pequeno quadro com a quantidade de pontos possíveis a cada seleção, na primeira fase. À medida que a seleção ia ganhando, ia-se marcando os quadrados correspondentes aos pontos conquistados.
Tinha gente que ficava com pelo menos duas. Uma era utilizada para colocar os dados oficiais. A outra, para fazer conjecturas, pensar projeções, imaginar a final dos sonhos. Para preencher com as informações que a lógica na cabeça de cada um apontava. Argentina e Arábia? Hermanos na cabeça. Três pontos fáceis. Japão e Alemanha? Lógico que os germânicos sairão vencedores. E assim, ia-se construindo uma decisão de acordo com o conhecimento, o desejo e a vontade de cada um. E torcia-se para que a copa real acompanhasse essa pretensão.
Mas em 2022, isso não está sendo possível. Pelo menos com as tradicionais tabelas. Elas não deram as caras nessa edição do Mundial. Os que se aventuravam em produzi-las ponderaram que ninguém mais iria querer marcar tabelinhas de papel. Não cogitaram sequer a possibilidade de uma “zebra” também nesse campo.
As tabelas digitais são atualizadas a cada minuto. No celular, no tablet, no computador. Elas já aparecem quase completas. Aos donos dos equipamentos, resta apenas olhar. Um apertar de tela aqui e outro ali. Nada mais que isso. Como criança que ganha carrinho a controle remoto. Depois de mexer no controle duas vezes, foi-se o encanto.
A modernidade tira o romantismo. Afasta o improviso. Enterra a surpresa. Já há, inclusive, álbum de figurinhas digitais. Espero que essa ideia não pegue. Será mais uma lenda a sair de campo. Assim, a tradição tende a perder mais charme.
* Professor e jornalista
Realmente, eu também senti falta das tabelas.