- * Márcio Alexandre
Tenho sido questionado sobre porque ainda milito no Jornalismo. Servidor público concursado da prefeitura e da Universidade, não teria eu, na visão de quem me questiona, razões econômicas para permanecer escrevendo. E, nesse aspecto, vem o meu argumento: não mercadejo minha pena.
Desde que entrei pela primeira vez numa redação, em 13 de maio de 1995 (primeiro como revisor) e dois anos depois, quando comecei as rabiscar os primeiros textos, aprendi uma das principais lições: o setor financeiro não se mistura com a redação. Aos que tem dificuldade de fazer essa separação, sugiro ler o Beijo de Lamourette, de Darton.
Hoje, com raras exceções, não se sabe onde começa um e termina o outro. E não são necessários espaços físicos para que se saiba como cada setor deve agir para manter sua independência e importância. Sem se amalgamarem.
E porque parecem estar fundidos? Porque, infelizmente, o poder se apoderou dos analfabetos funcionais e dos disruptivos sociais que atuam em perfis de redes conectadas fingindo divulgar informação.
O sistema comprou os tontos para fazer barulho e tolos para ficar em silêncio. E ainda amestrou uma horda para colar selo de fake em quem divulga verdades.
Tem dado resultado para quem governa silenciando, simulando, mentindo, ludibriando, corrompendo e sendo corrompido.
E como reverbera esse “jornalismo”? Brigando com as palavras, gritando com a ética, massacrando o bom senso e vilipendiando a liberdade de expressão. São sempre desmentidos pelos fatos, constrangidos pelas circunstâncias e trucidados pela verdade. Serão punidos pela história.
Gente sem a técnica do Jornalismo fingindo emitir opinião sobre o que não sabe para desviar a atenção do povo sobre o que este deveria saber. Cometendo crimes na Internet, terra que consideram sem lei. Um acinte ao bom senso e uma agrura dos tempos de hoje.
Para mim, Jornalismo é a soma de todas as virtudes dos grandes com os quais aprendi e aprendo. É a escrita cheia de força e cultura de Canindé Queiroz. O lirismo pujante de Antônio Rosado Maia e a ética assentada de Rubens Coelho. A versatilidade de Edilson Damasceno e Aclecivam Soares, e a coluna no Português escorreito de Emery Costa. A técnica de Dorian Jorge Freire e o entusiasmo com o Jornalismo impresso de César Santos. A pesquisa perscrutante de Bruno Barreto e elegância vernacular de Aglair Abreu. O vigor do texto de Luís Juetê e a intelectualidade de Cid Augusto. A multiplicidade redacional de Gilberto de Sousa e a calma textual de Izaíra Talita. O multiculturalismo de Caio César Muniz e a coragem de Fabiano Souza. O conhecimento enciclopédico futebolísitico de Sérgio Oliveira e sensatez de Regi Carte.
Claro que ainda tem muita gente boa tecnicamente, mas que não merece ser citada pelo paradoxo em que se transformou, porque eticamente deplorável, comprada que foi para se calar diante das barbáries que temos hoje quando até pouco tempo denunciava coisa bem menor.
São um poço de incongruências ambulantes. Um universo de contradições. Um concerto desamônico entre o que diziam no passado e o que fazem no presente.
Permaneço no Jornalismo e dele não pretendo me desgarrar porque o vejo como múnus público. Como instrumento a favor dos menores. Como meio a arrostar os maiores. Como força a tentar equilibrar a luta social. Para fazer o que um jornalista sério deve fazer, doa a quem doar: escrever sobre o que precisa ser dito.
Feliz Dia do Jornalista a todos os que honram esse necessário ofício.
- * Professor e jornalista
Excelente meu caro, não deixe o jornalismo, não é você que precisa dele, é o jornalismo que precisa de você.
Parabéns, eloquente e coerente. E principalmente digno de orgulho.
Um ótimo do ótimo domingo, lendo um texto simplesmente impecável com grandes verdades verdadeiras. Meus APLAUSOS. E a luta continua! 🙌🙌💯👍🤝