* Márcio Alexandre
Acuado, assustado, com medo. Inseguro, isolado, sem defesa. O tirano está na defensiva. Todo o mal que prega, planeja e executa pesa sobre seus ombros. Alguns dos erros trazendo consequências. Muitas das irregularidades vindo à consciência. Diversos dos crimes na iminência da comprovação.
Preso pelas circunstâncias. Encurralado pelas suspeitas. Amarrado pelas evidências. Restou a encenação. O espetáculo tosco. O teatro dos horrores.
Para os que são ruins e não cansam de arruinar os outros, só resta uma alternativa: fingir fraqueza. Recorrer ao vitimismo. Dizer-se perseguido.
O tirano tenta se reerguer. Para isso, é preciso engolir o orgulho, mastigar a arrogância, deglutir a prepotência. É ano eleitoral, é necessário fingir-se pequeno para enganar até os grandes.
O ditador quer ditar a narrativa. Do pobrezinho. Do humilhado. Do humilde.
Apesar da encenação, dá para ver nos olhos a maldade. Dá para sentir nas palavras o ódio. Dá para ver nos gestos a vingança.
O tirano encurralado é um perigo. O próprio fingimento é um ataque. É uma forma de colocar os alienados contra quem denuncia as suspeitas. Contra quem publica as irregularidades. Contra quem poderá punir os crimes.
O tirano acuado é capaz de tudo: de roubar e gritar pega ladrão. De matar e consolar a viúva. De dá rasteira e fingir estender a mão. O problema não é o que faz publicamente. O tenebroso é o que pratica às escondidas. Na sombra da impunidade. Na penumbra da maldade. O que destroi quando finge construir.
Para o tirano, não é fácil descer do pedestal. Não é confortável fingir fraqueza. Não é cômodo emular humildade. Mas é a maneira com que ele mais se fortalece: mentindo, fingindo e enganando.
Vocês entendem de quem estamos falando. Vocês sabem o que ele falou. E não acreditaram. O maldoso sempre finge. Bondade ou sofrimento.
* Professor e jornalista