* Ugmar Nogueira

O prefeito Allyson Bezerra (União Brasil) tem esmagadora maioria na Câmara Municipal de Mossoró. São pelo menos 17 vereadores fazendo o que quer e o que deseja o chefe do Executivo municipal.

É essa maioria que garante ao prefeito a aprovação de matérias que chegam às pressas, na calada na noite, na surdina, sem que haja tempo para que ninguém, nem mesmo os governistas, para analisar o teor dos projetos. E mesmo assim, a bancada governista vota e aprova.

Foi dessa forma, por exemplo, que foi aprovado o PL 17, o conhecido Pacote de Maldades (que retirou direitos dos trabalhadores); e também com esse modus operandi que se acabou com a carreira dos supervisores escolares (que perderam benefícios concedidos a professores, passaram a ganhar menos e terão que trabalhar 40 horas semanais). Essa maioria blinda o prefeito de ter que explicar questões espinhosas, como contratos suspeitos e aditivos desnecessários (como o de R$ 500 mil numa obra já concluída).

Essa maioria e esse aparelhamento, no entanto, não impediram que o prefeito sofresse a sua maior derrota desde que assumiu a prefeitura em 1 de janeiro de 2021. E não foi uma derrota qualquer. Foi uma queda monumental, que obrigou Allyson Bezerra a ter que cancelar um contrato milionário (mais um).

Para que isso acontecesse foi necessário que três vereadores fizessem aquilo que se espera dos parlamentares em situações em que há risco de a sociedade ser penalizada. Com clara demonstração de que o município sofreria prejuízos, o contrato com a São Tomé Distribuidora era de uma obscuridade só.

A empresa tinha apenas R$ 100 de capital, não dispunha de funcionários e, pasmem, não tem sequer uma sede. Não tem que ache em Monte Alegre (RN) onde funciona a tal distribuidora. Pois bem.

Essas suspeitas fizeram com que os vereadores Tony Fernandes e Paulo Igo, do Solidariedade, e Omar Nogueira, do Patriota, fizessem aquilo que se esperar de quem compõe o Parlamento: fiscalizasse.

Sem alarde, sem espetacularizações, sem arroubos midiáticos, os três foram até Monte Alegre e mostraram, de forma inapelável, que a licitação ganha pela São Tomé Distribuidora era uma fraude. O processo foi sim fraudado. E por quê? Porque a empresa ganhadora não comprovou os requisitos necessários para participar do processo.

E importante ressaltar que a gestão Allyson Bezerra validou o procedimento mesmo sabendo-se que havia problemas. A gestão insistiu em dizer que estava tudo certo quando todo mundo apontava os erros. Incompetência? Má-fé? Não se sabe o que aconteceu para que a gestão Allyson Bezerra, que se diz tão transparente, proba e competente, tenha se enroscado num rolo tão suspeito.

O êxito dos três vereadores da missão fiscalizatória que o cargo lhes garante mostra que quando se faz o certo é possível ganhar. Mesmo em infinita desvantagem numérica.

* Radialista

Foto: Jornal DeFato

One thought on “Quando se faz o trabalho que deve ser feito

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