* Márcio Alexandre
Era pouco mais de 9h da manhã da terça-feira, 26 de julho, dia dos avós. Dois homens conversam na recepção de um hospital de Mossoró. O que aparenta ser mais velho demonstra maior preocupação. O mais novo comenta que talvez seja possível irem embora ainda no final daquele dia. O outro responde que tudo seria mais fácil se todo o problema fosse apenas a estadia.
O menino, diz o senhor, está com a cabeça em frangalhos. O tom da voz demonstra que chora por dentro. Não foi possível precisar o parentesco dos homens com o menino, embora um aparentasse ser o pai e o outro o avô. E este último expressava mais cuidado, mais atenção e mais zelo.
Pouco tempo depois do diálogo, o rapazinho aparece na recepção. Deve ter uns 12 anos, no máximo, embora tenha um corpo que faça alguns desavisados pensarem que ele é bem mais velho que isso. A fisionomia, no entanto, é de uma criança.
Mesmo com um catéter no pescoço, exprime alegria e contentamento, sentimentos automaticamente transferidos para o rosto dos homens, especialmente do mais vivido. A fisionomia do menino não guarda semelhança com os dos homens. A de serem parentes. Naquele momento. Naquela situação. Naquele preocupação, isso é o que menos importa. Parentesco de verdade é o amor que cuida. De sangue ou não.
* Professor e jornalista