* Márcio Alexandre
Os CD´s são empilhados ao lado dos DVD´s. Neles, há filmes, shows e fotos. Apresentações profissionais e de amadores. Performances dos artistas famosos e registros dos anônimos mais importantes. Espetáculos guardados como relíquias. Material tratado como tesouro.
Alguns dos CD´s são repositórios de fotos caseiras. Registros da evolução dos filhos, dos encontros de família, pequenas comemorações com amigos. Retratos de como era mais romântico não ter tudo à mão. De como era mais prazeroso procurar aquele CD, aquela música, aquele show. De famosos e anônimos.
Hoje parece que temos quase tudo e usamos quase nada. Milhares de opções. No celular, no computador, na TV. Streaming demais com charme de menos. Por satélite, muita oferta de entretenimento e poucos se entretendo com o que tem.
Parece que passamos mais tempo procurando o que assistir do que assistindo. Pensando no que ouvir do que ouvindo. Imaginando o que ler do que lendo. Muito tempo na escolha nos deixando sem tempo de ver o escolhido.
Antes, o dinheiro regrado para um título já nos conduzia para uma escolha. Já tínhamos na mente o gênero que gostaríamos de assistir ou ouvir. O passeio pela locadora era um ato agradável. Atualmente, muitas vezes nos chateamos ao zapearmos muito sem se agradar com nada.
A profusão de coisas a um toque virou um fast food de tédio. Há muito, a toda hora e em todo canto. Até que um dia o prazer de apertar botões seja substituído por um outro escape.
A sensação que temos é que não sentimos mais mais satisfação em ver, ouvir ou ler. Basta tocar. A tela. A tecla. O touch substituindo o felling. Perdoem os termos. A modernidade on demand exige que não fiquemos para trás.
Mas ainda prefiro buscar um bom filme no meu acervo, mesmo sabendo quais os tenho e tendo assistido-os já algumas vezes. Procuro a música também nos meus CD´s. E me divirto muito, porque enquanto procuro um, escuto o que não procurava. Leio uma revista, enquanto busco um livro. Tudo impresso. Eles ainda cumprem um grande papel.
Nos tempos atuais, a caça se oferece ao caçador. Só não sabemos até quando esse fim do encanto continuará encantando.
* Professor e jornalista