Por Márcio Alexandre
Mossoró reagiu, com surpresa e indignação, à notícia de que uma criança de apenas 11 meses de idade morreu. Com diarreia, enfermidade que se instala com frequência nos corpos de quem vive em condições insalubres. E de desnutrição, situação comum nos lugares onde gestões dizem muito e fazem quase nada.
Um bebê indígena. Mas poderia ter sido um caboclo, cafuzo ou mameluco, um europeu, mesmo que a pobreza atinja fatalmente essas minorias que gestores adoram utilizar para fazer discurso, mas não tem coragem de chegar perto. E de longe, os assiste morrer.
O Portal Boca da Noite sofreu os mais pesados ataques de uma turma que adora falar de amor, mas que faz parte mesmo é do gabinete do ódio de Mossoró. Quem financia? Não sabemos. Mas sempre que levamos ao ar notícias que desagradam aos poderosos, o poder de quem pode chega como ameaça a quem tenta ajudar quem não pode.
A criança vitimada pela chaga que governantes ignoram, morreu após padecer nas piores condições de vida. Invisibilizada. Por que talvez ainda não votasse. Desconhecida, quem sabe porque não tinha ainda um perfil em rede social. Infelizmente, morreu.
Agora, pressionados pela repercussão do caso, “autoridades” devem estar às pressas tentando remediar a situação dos que vivem no mesmo caos que o bebê que veio a óbito.
Uma vida foi perdida porque não se teve sensibilidade. Porque negam um abrigo. Porque se recusam a dar um pouco a quem não tem nada.
As responsabilidades serão apuradas. Será? O fato mostra que negligência maltrata. E omissão mata. A pressão contra quem denuncia não mata a fome. A ameaça contra quem publica não esconde o fato.
Morreu um bebê de 11 meses. Que a indignação de quem ainda tem humanidade vire força para cobrar ação de que tem autoridade. Para que não morram mais humanos. Morrer de fome em pleno século 21, na segunda cidade mais rica do Estado, é uma barbárie. A inanição é uma perversidade contra os mais vulneráveis.
* Professor e jornalista