Numa pequena cidade que cabia inteira em uma selfie, surgiu ele: o Prefeito Reborn. Nasceu das entranhas luminosas de uma agência de marketing com ar-condicionado central e filtro de Instagram embutido.
Antes, fora deputado — um daqueles de discurso pronto, terno engomado e presença digital ativa, mas atuação política invisível. Quando eclodiu como prefeito, não foi por acaso: foi por roteiro. Surgiu das cinzas da insignificância parlamentar com a pele lisa de Photoshop, chapéu de couro, discurso plastificado e uma promessa: “Agora vai!”. Ninguém sabia exatamente o que e como, mas ele garantia que ia. Com promessas, sua falsa fé e com um drone voando por cima para registrar tudo em 4K.
O Prefeito Reborn não administrava, editava. Cortava buracos das ruas no Premiere, adicionava brilho ao esgoto a céu aberto no After Effects e maquiava rombos nas contas públicas com uma vinheta bem animada: Compromisso com o povo! “É o povo no poder!_”
Reformou praça com três bancos — mas fez parecer a Times Square.
Enquanto isso, as UBS faltava gaze, mas sobrava live. O IPTU nas alturas, o piso docente ninguém via, mas ele seguia.
Toda denúncia contra sua administração era tratada como “fake news da oposição”. A cada nova acusação, uma nova campanha: “A verdade prevalecerá (patrocinado por verba da cultura)”. E funcionava. A população, entorpecida por reels com música do Coldplay e legendas em caps lock, chorava com vídeos de entrega de bolas de futebol como se fossem planos de governo.
A cidade? Bom, a cidade virava pano de fundo. Um cenário que só interessava enquanto coubesse num story de 1 minuto. O resto era detalhe. Detalhe, aliás, que ninguém lia no rodapé do contrato de licitação.
Mas o Prefeito Reborn seguia firme, sempre renascendo de crise em crise, de escândalo em escândalo, de hashtag em hashtag como um boneco de vinil político, macio por fora, vazio por dentro, mas sempre sorrindo com olhos de vidro para a próxima foto oficial.
E o povo? Curtia, comentava, compartilhava. Porque, no fundo, todo mundo gosta de uma boa maquiagem. E na terra do filtro, quem mostra a cara limpa parece doido. (Fonte: Mossoró Realista)