* Márcio Alexandre

São 9 meses nutrindo uma esperança. Pouco mais de duas centenas de dias carregando um sonho. Mais de 30 semanas gestando o futuro. Alimentando com afeto, energias e vibrações.

Até o grande dia, muita espera, expectativa e ansiedade. Uma espera que não angustia. Uma expectativa que alegra. Uma alegria que anima. Uma ansiedade que não machuca. Uma gravidez é uma família em estado de felicidade. A grávida, um misto de delicadeza, força e coragem.

O dia do parto é uma bênção. Uma dádiva. Todo o cuidado que se teve, toda a expectativa que se criou, toda a alegria que se viveu se materializando na nova vida que em breve estará nos braços.

A ida à maternidade até o retorno para casa com o bebê é um rito sagrado. O que se vivencia nesse tempo são ações, passos e atos divinizados. Que devem ser imaculados.

No Brasil, infelizmente, nem sempre é assim que acontece. Lamentavelmente, aconteceu o pior. Uma mãe em trabalho de parto sendo partida em sua alma. Violentada em seu corpo. Constrangida em seu momento mais sublime, em seu tempo mais virtuoso.

A mulher numa situação de maior vulnerabilidade. Totalmente entregue aos outros para receber o que é exclusivamente seu. Horripilantemente sendo invadida por um dos que deveriam protegê-la.

O acusado comete um crime contra uma pessoa e macula um momento divino. Mancha o nome e abusa da vida. Age como um monstro que é. É, inegavelmente, um bandido. Um criminoso. Um canalha. Porque não foi um deslize, um engano, uma falha. Foi um grave delito violando uma grata espera. Uma infração gravíssima contra o milagre da vida. 

Fez da sua transgressão individual uma vergonha coletiva. Para todos nós homens. Para todos os que são dignos dessa condição. A todas as mulheres, em qualquer lugar, por qualquer constrangimento, o meu sincero pedido de desculpas.

* Professor e jornalista

2 thoughts on “Um crime contra um milagre

  1. Que reflexão, para os dias atuais, cheio de empatia e afeto para nós seres humanos. Parabéns!

  2. Obrigada Márcio.
    Essa leitura proporcionou um carinho fraterno no meu coração de mãe. Você vestiu a pele das mulheres, e é como se tivesse sentido, exatamente, o que nós sentimos. E no final se posicionou como homem.
    Parabéns!

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