* Jônatas Andrade

 

‘Uma Beleza Fantástica’ é o que acontece quando ‘Matilda’ encontra ‘Amélie Poulain’ e ambas vão ao cinema assistir ‘Pequena Miss Sunshine’.  Vivendo sob um regime de precisões simétricas, Bella Brown, cuja simetria é vista até mesmo nas iniciais de seus nomes e na quantidade de letras que os compõem, desde criança, parecia destinada às vivências incomuns. Encontrada por patos em uma lagoa, a jovem criou-se seguindo os seus próprios padrões estéticos de arrumação, organização, imaginação e leitura de mundo.

Não à toa, já uma jovem mulher, seu destino foi trabalhar como arquivista de uma biblioteca. Nada mais justo para alguém de tantos encantos minimalistas do que trabalhar em um ambiente repleto de conhecimentos e saberes de toda a sorte, tendo acesso às maravilhas de uma vida na distância de um esticar de braços para o alcance das obras desejadas.

Lembrando bastante a aura do badalado — e com 20 anos completados — O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, o filme Uma Beleza Fantástica encontra seu próprio caminho, mas não antes, por exemplo, de emular as trilhas de alguns jovens clássicos do século 21.

Sua trilha  sonora lembra tanto as composições do Yann Tiersen para Amélie Poulain como também traz recordações da bela trilha da banda DeVotchKa para Pequena Miss Sunshine, que também divide com Uma Beleza Fantástica uma série de curiosos e intrigantes personagens.

Bella Brown, ao que tudo indica, sofre de um misto de agorafobia e Síndrome da Cabana. São duas condições que, aparentemente, estão presentes no cotidiano da personagem. Não é de se estranhar, portanto, que a narrativa que o filme apresenta ao espectador impõe dois desafios à protagonista: escrever e jardinar. São duas atividades que ela precisa começar. Uma, a jardinagem de um espaço para além de suas portas e janelas, mas ainda em seus domínios, e imposta pelo senhorio de sua morada como condição para que ela não perca a casa que aluga; e o desafio da escrita, imposto por ela mesma, Bella, a si.

Trabalhando sob a tutela do Sr. Stephenson, um ranzinza da terceira idade, Bella Brown terá acesso aos paisagismos florais, detalhados, coloridos, cheios de histórias e maiores que a vida (e a morte, como descobriremos ao longo do filme) do seu mentor em jardinagem. Na realidade, todas as figuras masculinas que rodeiam Bella, são, à própria forma, inventores: há Billy, o inventor de mecânicas e obras steampunks, e há também o simpático Vernon, o cozinheiro das duas casas, pai de duas filhas e conselheiro dos seus dois inquilinos, Bella e Stephenson.

O Sr. Stephenson, por sinal, junto com Bella, funcionam como a alma e o coração do filme. Assim, no terceiro ato, ele revela: “Passo meus dias respirando a vida nessas coisas maravilhosas”. E é ele, entre todos os personagens do longa-metragem, o mais desejoso por saborear a vida, justamente por ter, durante ela, experimentado a dor da partida. Rose, como a rosa, foi o seu motivo para mudar. Também ele, entre todos os personagens, pela idade e por sua condição de saúde, é o que mais vê o seu derradeiro fim.

Trazendo simpáticas interpretações ao longo de filme, Uma Beleza Fantástica é um pequeno, doce e encantador filme.

*  Coordenador de Tutoria na Diretoria de Educação a Distância (UERN), membro da Associação de Críticos Cinematográficos do RN, Assessor Parlamentar na Câmara Municipal de Mossoró e Conselheiro Municipal de Cultura em Artes Visuais

 

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

 

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