* Márcio Alexandre

Na última terça-feira, 4/7, o Portal Na Boca da Noite publicou a seguinte matéria: “Prefeitura de Mossoró se recusa a liberar servidores para cursar pós-graduação”. Trata-se de uma situação comum no governo municipal atual. Recebemos denúncias a esse respeito com muita frequência, e as publicamos quando constatamos que realmente são procedentes. Enquanto tentamos checar as denúncias recebidas, contactamos a gestão para que ela apresente sua versão para os casos.

Quando não conseguimos checar e a prefeitura nega que as situações denunciadas não existam, as matérias não são publicadas. Por algumas razões. A primeira que é princípio basilar no jornalismo: sem checagem positiva a respeito de determinado fato, ele não existe. Se não existe, impossível que vire notícia. A segunda é princípio ético, tanto do jornalismo quanto nosso, enquanto integrantes do Boca da Noite: não publicamos nada, contra quem quer que seja, sem que haja constatação e sem que tentemos ouvir quem está sendo denunciado.

Aqui não denunciamos ninguém. Não escrevemos ao nosso bel-prazer sobre o quer quer que seja sem um fato motivador apresentado por alguém. E mais: sem que tenhamos sob nosso poder, informações, dados, provas, do que está sendo denunciado. Sempre que tenhamos informações básicas de quem está denunciando, principalmente porque a maioria das pessoas que nos procura só fala se tiver muita certeza de que permanecerá no anonimato porque teme, com muita razão, sofrer represálias. Tenho exemplos de como isso acontece. De como a perseguição é regra na gestão Allyson Bezerra. E garantimos o sigilo da fonte porque a Constituição Federal assim orienta. Por mais que tenhamos outras muitas razões para garanti-lo a quem nos procura. E nos procuram todos os dias.

Sobre a denúncia que motiva esse texto, na quarta-feira, 5/7, cedo, recebi num aplicativo do celular, a seguinte mensagem de uma pessoa que integra a gestão Allyson: “Cada vez mais perdendo a credibilidade com essas matérias”. Pelo nível da gestão e, como se percebe, de algumas pessoas que a compõem, com raras exceções, a mensagem poderia soar como elogio. Em governos totalitários, tem mais feição de ameaça.

A pessoa prosseguiu: “a verdade é verdade em qualquer tempo e espaço, fulano do sindicato, que é da comissão, pode lhe explicar o motivo da demora na liberação”. A pessoa que me perdoe, mas transferir para um membro da comissão a responsabilidade que é de gestão é no mínimo constrangedor. Ora, quem tem maioria nas comissões é o prefeito. Quem assina as portarias concedendo as liberações é o prefeito. Quem tem mais comando que os secretários de quase todas as pastas, é o prefeito. E não por autoridade constitucional do cargo, mas por ordem, determinação, vontade, birra, desejo, imposição, do prefeito.

Disse-lhe, paciente e pacificamente, que, como consta na matéria, que teria procurado a gestão para que rebatesse a denúncia e até aquele momento, o assessor da Secretaria Municipal da Educação (SME) não tinha retornado as ligações que eu tinha feito para ele nem respondido as mensagens que deixei em seu celular. Reforcei à pessoa com que estava conversando que ela poderia, inclusive, naquele momento, apresentar a versão oficial já que ocupante, nessa gestão, de um cargo de elevada responsabilidade.

A resposta dela é uma constatação do quanto o engenheiro Allyson Bezerra se apropriou da prefeitura. E mais grave, de que ninguém no seu entorno tem coragem de dizer que isso está errado. De que ele é passageiro no Executivo. De que por mais que a sede da prefeitura receba o nome de Palácio, ele não é rei. E que por mais que aja como monarca absolutista, seu “reinado” tem prazo de validade.

“Não respondo e nem responderei porque todas as vezes que fiz você coloca em um contexto que lhe convém. Então uso o meu direito e autonomia de não mais responder”.

Essa resposta cabe perfeitamente numa hipotética situação em que a pessoa está tratando de questões pessoais dela. Se a denúncia fosse contra ela, o que ela disse se encaixaria, eventualmente, em sua defesa. Mas ela, Allyson e a maioria dos que integram a gestão esquecem de uma questão simples: nos cargos em que estão eles devem satisfação ao povo, esse povo que denuncia à imprensa, e essa imprensa questiona aos governantes em nome desse povo. Mas como tenho dito, os doutores e doutoras que integram a gestão Allyson Bezerra tem dificuldade de entender que a prefeitura não é um feudo do prefeito.

O Boca da Noite e outros órgãos de comunicação sérios, tem perguntas não respondidas pela gestão Allyson desde março de 2021. Ainda hoje não recebemos retorno da Comunicação sobre o contrato de R$ 25 milhões de reais celebrado  com a Sama, e sob investigação do Ministério Público (MP). Ainda não responderam aos questionamentos sobre os quase R$ 500 mil de aditivo para uma obra já concluída no Centro de Convivência. Não fazemos juízo de valor sobre nada disso, mas o povo, a quem o dinheiro pertence, precisa saber. Esses são apenas alguns dos muitos casos em que a gestão se recusa a esclarecer que de fato não há nada de errado nas supostas irregularidades denunciadas. A pessoa que tenta nos desacreditar, já recusou ligações minhas e de outros jornalistas para não responder a questões mais simples que essa.

Pelo respeito que tenho a todos respondi-lhe: “Você não responde porque quer que eu diga o que a gestão quer e não o que realmente ocorre. Só que tem uma questão: responder o que a imprensa pergunta não é você que decide, nem o prefeito. Não é favor, é obrigação. Vocês estão lidando com a coisa pública. Mas quem nessa gestão tem consciência disso?”.

Apresentei-lhe ainda uma série de perguntas sobre irregularidades da gestão, relacionadas à pasta em que ela trabalha, e ela silenciou. Depois, apresentei print da mensagem que enviei ao secretário da SME e que foi solenemente ignorada pelo jornalista responsável, num gesto até de irresponsabilidade. Mas eu sei que não foi por vontade própria. Depois da imagem, ela também não falou mais.

A gestão Allyson, para essa pessoa que falou comigo e que pode não saber do que muita gente ainda não sabe, funciona assim: jornalistas que fazem as perguntas incômodas são ignorados. Podem sair as denúncias que quiserem fazer. Coincidentemente, logo após essas matérias serem publicadas, elas passam a ser desacreditadas por alguns blogueiros sem nenhum escrúpulo e muita motivação; por detentores de perfis em redes sociais com cargo em terceirizadas e nenhuma consciência de sociedade.

Mossoró sabe que o que se opera em Mossoró é um reflexo do que aconteceu no governo Bolsonaro. Uma tentativa de desacreditar instituições (lembram do MCJ do ano passado e o que tentaram fazer com o MP?, e o que ela fez recentemente com os sindicatos, inclusive tentando colocar uns contra os outros?), um aparelhamento brutal de alguns órgãos, e o desejo de que em todos os canais de TV, em todas as rádios, em todos os portais de notícia só se noticie aquilo que a gestão deseja.

O Portal Na Boca da Noite continuará realizando seu trabalho. Por mais que não se agradem. Elogiem ou ameacem. Por mais que sigam sonegando informações ao povo. Por mais que muita gente não se afeiçoe ao que fazemos. A missão do jornalista não é escrever para agradar, é dizer o que precisa ser dito. Fora disso, como disse Millôr Fernandes, não é jornalismo “é armazém de secos e molhados”. Ou, para lembrar Orwell, “jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”.

 

* Professor e jornalista

 

One thought on “Veja como a gestão Allyson Bezerra trata a prefeitura como um feudo do prefeito

  1. O grande problema e que as irregularidades da gestão Alysson bezerra e que o ministério público está ignorando da denúncias feita pela a população e uma impressa venal e irresponsável as obras todas paradas e ninguém sabe o que fizeram com o dinheiro finisa e com um ato de irresponsabilidade os senhores vereadores autoriza o irresponsável prefeito contrair outro empréstimo milionário sem precedente quem vai paga a conta e o contribuinte o precisa ser feito com essa gestão acredito que o novo silveira está de volta não respeita nem uma restituição e enquanto o todo ministério público está calado não sei o motivo ninguém tomar um caminho pra para para os demorando desse prefeito

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