* Márcio Alexandre
O cirurgião Nick Cavanaugh, com sadismo, possessão e paixão doentia, encontra um jeito cruel de ter junto de si a mulher por quem ele devota desejo patológico: mutilá-la.
Nick passa, então, a amputar os membros de sua amada. O objetivo é duplo: impedir que ela saia do seu entorno e torná-la cada vez mais dependente dele
É assim que se desenrola o enredo de “Encaixotando Helena”, filme de 1993.
Com ingredientes parecidos, em Mossoró se desenrola enredo parecido, trágico e, quase inacreditável.
Por aqui quem está encaixotado é o aparelho que pode salvar vidas.
Enquanto centenas de mossoroenses carecem, diariamente, por exames de tomografia, um tomógrafo está há quase um ano e meio encaixotado. Bizarro, macabro, surreal.
Por narcisismo exacerbado, vaidade doentia, maldade incontida, o prefeito Allyson Bezerra (União Brasil) guarda um equipamento comprado com dinheiro do povo esquanto esse mesmo povo padece. Mais doentio impossível.
Fosse um enredo de filme, muita gente acharia a estória inverossímil, mas infelizmente, nem é filme, não é ficção, nem é invenção.
Como se tivesse pulsão pelo trágico, apreço pelo ruim e afeição pelo sofrimento alheio, Allyson Bezerra assiste à agonia dos mossoroenses que precisam de uma tomografia, enquanto ele encaixota o tomógrafo.
Fosse num filme, ninguém hesitaria em dizer que o prefeito é um psicopata, um doente, um sádico. Ninguém em condições psicológicas normais submeteria um povo necessitado a um sofrimento tão cruel podendo resolvê-lo, diríamos os cinéfilos.
Mal, tirano, sádico, perverso, nominariam. Talvez faltassem adjetivos porque quando a perversão é demais, sobre apenas o inominável.
Às vezes o maldoso comete sua barbárie e coloca holofotes sobre si para que não vejam o mal que é tão aparente. Luz demais cega.
A gestão municipal diz que não instalou o tomógrafo porque está terminando de construir uma sala. A desculpa só não mais esfarrapada do que a dimensão da incompetência.
O governo do Estado pediu o tomógrafo emprestado. A gestão Allyson Bezerra sequer respondeu ao ofício, que dorme há quase um mês em uma gaveta do Palácio da Resistência. Ou quem sabe, dentro do caixão do tomógrafo.
Por pura picuinha, o prefeito se nega a fazer o empréstimo. Picuinha, que se diga, que pode estar custando vidas.
O cinema é pródigo é produzir psicopatas. Infelizmente, às vezes há quem queira superar a sétima arte. Assim pensam os amantes da telona.
* Professor e jornalista
