* Márcio Alexandre
Para que serve o “eu te amo”? Para ser dito, diriam os mais românticos. Para embalar os amores, sentenciariam os esperançosos. Serve sim, para ser dito. Mas não toda hora. De qualquer jeito. Em todo canto. Por isso..
Não diga que ama com vontade de ganhar o céu. Com desejo de suprimir vontades. Não diga que ama como quem quer ser santo.
Não diga que ama querendo consertar o outro. Não ter conserto também é libertador.
Não diga que ama sem desejo de beijar porque o amor desperta o toque.
Não diga que amanhã para aprisionar alguém no passado e enclausurar nos seus erros.
Não diga que ama como quem quer chegar ao paraíso porque no amor há vezes há mais pecado que salvação.
Não diga que ama como quem quer ganhar o céu porque talvez ele não seja feito para os que não se conformam.
Não diga que ama para quem caibam em seu mundo. O mundo do amor é infinito.
Não diga que ama para ferir. O amor só tem sentido como cura.
Não diga que ama apenas para expor em seu mural de vaidades. O amor fica bonito em molduras, mas só floresce em janelas.
Não diga que ama apenas para esperar café na cama. Pode ser que, assim, o mais importante esfrie.
Não diga que ama para sufocar pulsões. O amor é um péssimo carcereiro porque sua matéria-prima é a liberdade.
Não diga que ama para aquietar travessuras. Não há nada mais travesso que o amor.
Não diga que ama para parecer legal. O legal no amor é ser.
Não diga que ama para esconder frustrações. Isso só vai aumentar a fila dos frustrados.
Não diga que ama para distrair seus medos. No amor, também há batalhas que assustam.
Viva tudo o que o amor lhe permitir. Sem precisar dizer isso como efeméride. E se for para dizer “te amo”, que seja com coragem para que verdadeiramente se revele o que está sendo dito.
* Professor e jornalista



