* Márcio Alexandre
Finalizadas as eleições, pululam análises sobre o desempenho dos partidos. Se, por um lado, se coloca como necessário fazer esse tipo de observação, por outro, muitas vezes, quem faz não leva em conta uma gama de variantes. Mas, mais que isso há algo que chama a atenção: a cobrança pública de autocrítica que se faz ao Partido dos Trabalhadores (PT). E, ao que se percebe, somente a ele.
Ainda não vi (não estou dizendo que não se faz) o mesmo tipo de exigência aos demais partidos. Quando acontece é relacionada a uma outra agremiação de esquerda.
Antes de adentrar de forma minudente sobre essa situação, abro um parêntese sobre a eleição em Natal.
Na capital do Estado, a candidata Natália Bonavides (PT) saiu gigante. Ficou em segundo lugar, concluído o pleito, mesmo com todo o peso que se coloca – nesses tempos de polarização – numa candidatura de esquerda, petista, feminista e de uma jovem.
Natália enfrentou uma máquina azeitadíssima. Uma prefeitura a favor da candidatura de Paulinho Freire (União Brasil) com denúncias diárias de crimes de assédio eleitoral (eufemismo para pressão a servidores para votar no candidato do sistema).
Enfrentou o ódio dos extremistas, com, inclusive, uma investigação de um crime de homicídio contra sua pessoa.
Enfrentou, no dia da votação em seu segundo turno, o boicote no sistema de transporte público.
Enfrentou, durante todo o processo, as mais absurda e criminosa campanha difamatória, com fakes espalhados inclusive pelo próprio Paulinho Freire.
Então, por tudo isso e o mais que todos sabem e a maioria finge não saber, Natália sai vitoriosa. E aqui, permitam-me uma percepção que salta aos olhos: Natal, por decisão soberana da maioria que foi às urnas, é que deixou de ganhar.
Voltando à questão inicial que motiva essa escrita. Não há cobrança aos outros para que avaliem seus defeitos, desacertos, seus lapsos. Menos ainda para que o façam à luz do dia. Talvez porque, muitos agem nas sombras. Cooptando votos na madrugada. Conseguindo apoios às escondidas. Pressionando a portas fechadas. Natal foi um exemplo disso. “Nas fuças das otoridades”.
Há questões, sim, a serem vistas pelo partido, pela esquerda, para que eles próprios cresçam com seus erros, corrijam seus equívocos e reorganizem suas rotas. Mas isso, repita-se em alto e bom som, tem que ser feito na sua dinâmica interna de ação, reflexão e organização. Ninguém cura ferida mostrando as escaras publicamente. Sangue escorrendo atrai tubarões.
Destarte, talvez seja preciso repensar a pergunta inicial e questionar: por que só se faz cobrança de autocrítica pública ao PT?
* Profesor e jornalista