* Márcio Alexandre
Desarrazoado, descabido, fora da realidade. Ou quem sabe até maldoso. É assim que pode ser encarado o discurso do deputado estadual José Dias (PSDB) contra o projeto de autonomia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Rádio Jovem Pan Natal News, nesta terça-feira, 7/12, o parlamentar demonstrou desconhecimento do projeto, esbanjou parlatório flácido e deixou clara e inconteste sua falta de apreço pela UERN. Pra completar, confundiu alho com bugalhos.
Gaguejando bastante – o que aponta para a anemia do discurso e a falta de argumentos a nutri-lo, ao responder sobre o que acha da proposta, José Dias cometeu o primeiro grande e imperdoável equívoco.
“Somente os três poderes deveriam ter a iniciativa de propor leis”, disse, sem atentar para um detalhe inescapável: a proposta de autonomia é do próprio Governo do Estado, ou seja, do Poder Executivo, a quem cabe propor iniciativas que redundem em gastos. E foi além em sua infeliz tentativa de desmerecer a importância da proposta.
“Essa iniciativa só visa uma coisa: leis para fortalecer as instituições”. Aqui cabem alguns questionamentos. José Dias é contra as instituições serem fortes? Por quê? Qual interesse dele em vê-las fracas?
Na tacanha exposição de José Dias, dotar a UERN de autonomia é reduzir a importância do voto dado pela população aos políticos. Para ele, isso diminui a democracia. Mas vejam só: enquanto aponta para uma hipotética perda de importância do processo democrático, o deputado criticou a existência do Projeto de Iniciativa Popular.
José Dias precisa, antes de fazer certas considerações, decidir o que ele pensa sobre a democracia: ou a defende ou a ataca. Defendê-la criticando um dos importantes instrumentos de participação do povo, como o Projeto de Iniciativa Popular, não cabe na mesma narrativa. Mesmo ela sendo tão débil como a apresentada por José Dias. Ah, para ajudar Dias, lembramos que o Projeto de Iniciativa Popular, assim como a Ação Popular, tem previsão constitucional. Mas é importante não confundi-los. O primeiro deflagra um processo legislativo. A segunda, o processo judicial.
Como preconceito pouco é bobagem, José Dias também mirou sua metralhadora de maldades contra o servidor público.
“Nós vamos terminar tendo o próprio funcionário público fazendo a proposta de aumentar o próprio salário. Esse é um primeiro problema”, afirmou. Percebam: para José Dias, servidor público ganhar bem é um absurdo. Ou ter o direito de decidir que pode ganhar bem é um problema. Estamos bem de deputado!!!
“Para lhe ser muito sincero, esse percentual é absolutamente inconstitucional”, afirmou José Dias. Aqui, foi um dos momentos em que o deputado mais gaguejou. Coincidentemente, foi quando menos argumentos apresentou. Se é que apresentou algum durante toda a conversa com os entrevistadores.
“Há uma imoralidade embutida nisso que é essa história dessa escala progressiva”, afirmou atabalhoadamente o parlamentar ao se referir ao escalonamento dos percentuais a serem repassados pelo Estado à UERN para a sua manutenção e desenvolvimento. Dela e da educação superior. E aqui percebe-se claramente que mesmo com toda a experiência, José Dias confundiu valor com percentual. “Vem cá como: é que uma pessoa está hoje administrando, está votando na Assembleia, previsão de que vamos gastar esses 3,5% daqui a 3 anos, 4 anos. Isso é um absurdo”, esbravejou.
A assessoria do deputado precisa dizer a ele, cândida e pedagogicamente, que o que está sendo definido é percentual. Portanto, já se sabe qual o impacto da medida no orçamento. Se houver boa arrecadação, bom para todos os lados. Se não houver, o percentual permanece o mesmo. Pela forma com que o deputado se expressou nessa entrevista, parece que não vai ser tarefa fácil fazê-lo compreender isso.
Não se sabe porque razões o nobre deputado tem tanta raiva da UERN. Sua ira com a universidade só é proporcional à sua falta de conhecimento da imprescindível instituição. E nesse caso, embora não se aceite, se entende que ele saiba pouco – ou quase nada sobre ela. Surpresa mesmo causou o fato de Dias demonstrar falta de conhecimento sobre prerrogativas dos poderes legalmente constituídos. Embora esteja em seu nono mandato como deputado. Mesmo sendo advogado por formação.
Parece que quando se quer muito fazer o mal contra alguém ou algo, o conhecimento se esvai na saliva da raiva vomitada. A continuar com esses vitupérios injustificados, se saberá muito antecipadamente como será seu voto. Espera-se que até lá o nobre deputado ao menos revele o porquê de tamanha iracúndia com a UERN.
* Professor, jornalista e servidor da UERN
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