A violência dos fingidos

por Ugmar Nogueira
A+A-
Reiniciar

* Márcio Alexandre

Quem vê as fotos nas redes sociais jamais imagina o esforço que a mulher faz para emular um riso. A semana é difícil. Muita cachaça e nenhum afeto. Moram juntos, mas sequer trocam olhares. Os corpos não se aproximam nem aos esbarrões, embora habitem o mesmo endereço residencial e de luta pela sobrevivência.

Ele está no segundo casamento. Muito comum nos que tentam disfarçar a sexualidade frágil. Também estão em uma segunda ou terceira relação conjugal a maioria dos amigos. Principalmente os que tem saco para ainda dividir com ela a mesa de bar e a conta da bebida e dos petiscos.

Tem dois filhos. O do primeiro enlace está abandonado. Colocou na masmorra do esquecimento por causa de problemas da adolescência. Esses que se originam, entre outras coisas, da ausência paterna. Uso de drogas à luz do dia e crimes pesados à sombra da noite. Inclusive homicídio.

Pobre, ao conseguir um emprego de uma terceirizada de uma importante estatal, viu-se no Olimpo. Achava não estar mais na base da pirâmide. E esqueceu os amigos que permanecem lá. Deveria ter voltado à realidade quando foi demitido, mas preferiu destilar ódio, inclusive contra os parentes.

Machista, diz que a mulher ficou indiferente a ele depois que perderam o plano de saúde que era pago pelo empegador. Adora chamar a atenção, principalmente para destilar misoginia, preconceito e machismo. Ela tolera as violências dele em nome de uma boa imagem de casal e para evitar maledicências. Mas prepara, na surdina, as condições que lhe garantam alforria futura.

De segunda a sexta, é do trabalho para o quarto, Nos finais de semana, da cama para a cachaça. Não tem mais sequer apreço por intimidade de casal. Conversas em mesa de bar são o seu grande prazer. A cada comentário ignóbil sua libido vai a mil.

Em alguns domingos, em que o desejo de se embriagar não é saciado nas primeiras horas do dia, consegue levar a mulher e o filho da atual esposa para um passeio. Especialmente para as praias. Para ela, a beleza do mar vale o sacrifício de estampar felicidade fake em retratos de celular. Para ele, a satisfação de que os outros pensem que está tudo bem, afinal de contas, o importante é a família. Mesmo que pratique tanta violência. A mais horrenda delas foi nas urnas em 2018.

* Professor e jornalista

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

Publicidade

Publicidade

Postagens relacionadas

Deixe um comentário

* Ao usar este formulário, você concorda com o armazenamento e o manuseio dos seus dados por este site.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Assumiremos que você está ok com isso, mas você pode optar por não participar se desejar. Aceitar Leia mais