* Márcio Alexandre
Parece um robô, e é. Uma maquinazinha com pouco mais de um metro de altura. Com alguns sensores, uma balança inclusa e um leitor de cartão de crédito.
São 4 dessas logo após os caixas rápidos. Ao lado, uma gentil funcionária do supermercado ensina aos clientes como usá-las. Ajuda à própria futura algoz do seu posto de trabalho.
Por enquanto, ainda há uma pessoa. Um ser humano a orientar clientes em 4 máquinas diferentes. Três outros funcionários já perderam a vaga na empresa. A tendência é que outros também percam. E nós temos culpa nisso.
Achamos chique sermos nós os operadores dos caixas. Pagamos para ter trabalho. O exemplo se espalha.
Vizinho ao supermercado, uma outra máquina dispensa refrigerante automaticamente aos que a operem. Dois apertos de botão, algumas moedas inseridas, e a latinha está à mão. Claro que também pode ser no cartão de crédito.
No shopping, o pagamento da taxa de estacionamento é para a máquina. Na saída e na entrada, uma voz mecânica é quem nos saúda. Em Santa Catarina um posto de combustível foi autorizado a funcionar sem funcionários.
Nos acostumamos a ser substituídos por sistemas. A ser diminuídos. A ter nossa importância relativizada. Sempre sob o pretexto de mais comodidade. Uma máquina a mais são pessoas a menos. Empregos a menos. Mais concentração de renda nas mãos de poucos num país em que a desigualdade atinge a muitos.
Não reclamamos. Não questionamos. Não refletimos. Apenas aceitamos. Pouco a pouco os outros vão sendo substituídos. Até que um dia os substituídos seremos nós. Em nome da comodidade. Hoje, nossa. Amanhã, dos outros. A comodidade extingue nossa solidariedade. Assim como as máquinas excluem as pessoas.
* Professor e jornalista
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