* Márcio Alexandre
O papo seguia agradável até que um indivíduo (desses que discursos neopentecostalizadores dos costumes tem transformado em estrume a adubar maldades) tentou fazer graça com um dos presentes.
O dito-cujo improvisou, sem nenhuma intimidade com a arte, mas cheio de má intenção, uma quadrinha para dizer, do ponto de vista dele, como o interlocutor faria para acalmar ânimos de crianças irrequietas que estivessem envoltas numa dessas confusões comuns aos menores. Desafinou legal, na produção e no intento.
Lembrei-me, na ocasião, de John Keating, magistral personagem do filme “Sociedade dos poetas mortos”, interpretado de forma brilhante pelo saudoso Robin Wiliams, que ao ser perguntado porque escrevia poesias, respondeu: “gosto e escrevo poesias não porque são bonitas. Gosto e escrevo poesias porque pertenço à raça humana. E a raça humana está impregnada de paixão”.
Percebi, nessa lembrança, porque fascistas não gostam de arte. Porque a arte nos faz lembrar de nossa condição humana. De nossa grandeza enquanto pessoas que admiram o que iguala, o que valoriza o outro, o que impede que nos sintamos maior que alguém.
Claro fica o quanto a poesia e outras expressões artísticas incomodam quem é mau: porque penetram sem precisar fazer corte; enfraquecem sem precisar fazer sangrar.
Como não tenho a grandeza de fazer a harmonia entre verso, estrofe e rima, deixo aos insensíveis e insensatos, o desejo de um dos maiores poetas (pra mim todos são grandes) eternizado em música porque o que “eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês” (Belchior)
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* Professor e jornalista
P.S: um registro para lembrar da importância da Poesia. Viva a Arte. Vivas aos Poetas.