* Márcio Alexandre
O brasileiro se acostumou com uma mentira comum dos seus políticos: prometer e não cumprir. Isso se tornou tão corriqueiro que se estabeleceu no anedotário popular como algo normal. Embora nociva, essa postura passou a ser vista apenas como estratégia para superar adversários. Mas perniciosa, porque utilizada para criar expectativa e gerar sonhos. Todas vindas por água abaixo após o triunfo daquele que mentiu mais durante o embate eleitoral.
Mas há quem minta de forma ainda mais prejudicial, torpe e nojenta. Nessa escala se enquadram aqueles que dizem em público que vão fazer o bem e agem, na surdina- sempre – de forma diametralmente oposta. São os que “maquinam” para que seus malfeitos soem como algo bom para a população.
O prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade) que prometeu muito durante a campanha – registre-se, está também nessa segunda categoria. Habituê das redes sociais, onde posa de bom samaritano, de salvador da pátria e de único e imprescindível competente gestor, atua nas sombras para negar direitos, perseguir e prejudicar.
Ao mesmo tempo em que tecia loas a si mesmo durante a mensagem da leitura anual, ontem, mandava mensagens subliminares aos vereadores, bem ao seu estilo chantagista de fazer política. Publicamente, elencou uma série de benefícios que a Reforma da Previdência municipal supostamente irá trazer. Mentira. Balela. Empulhação. Fraude.
Se a alteração no regime previdenciário fosse trazer coisas boas para os servidores, não faltariam lives, transmissões, postagens nas redes sociais, as mais diferentes formas de propaganda. O desejo, a intenção, o objetivo, o desiderato é um só: aumentar a alíquota de contribuição dos servidores de 11% para 14%. O resto é perfumaria, embora o que exale seja o fedor da canalhice.
E por quê? Porque enquanto mente que faz as coisas com transparência, Allyson age exatamente ao contrário. Mandou na tarde de ontem à Câmara Municipal o projeto de lei que reforma o sistema previdenciário mossoroense. As informações que se tem e a prática que o prefeito instituiu – e que a subserviência canina da maioria do Legislativo permite – é que seja votado em regime de urgência.
O projeto foi enviado ao Legislativo num momento de restrições sanitárias. Poucos terão acesso ao plenário da Câmara. Num instante em que os servidores, em sua maioria, estão mobilizados para garantir o direito ao sagrado (no dizer do próprio prefeito) reajuste do Piso Salarial Profissional Nacional do Magistério.
Que esse texto chegue aos servidores com tempo e condições para que todos aqueles que possam acorram à Câmara Municipal. Se há um projeto que mexe com a vida do trabalhador, é preciso que a ele seja dito o que está sendo proposto. Contra maldades, é preciso permanente vigilância. A crueldade muitas vezes se veste de humildade, por isso está sempre fugindo do debate porque a mentira não resiste ao confronto com a realidade.
* Professor e jornalista
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