Decifre-me ou te devoro

O que mais impressiona nessas histórias não é apenas a corrupção. É a arrogância, a soberba: o excesso, o exagero, a desmedida. Não temos, nas ações dos principais personagens, apenas atos de corrupção. Porque eles aparecem mesclados a uma enorme vaidade, a uma convicção de impunidade, a uma sede sem limites de ter, de gastar, de aparecer.

Não sejamos hipócritas. Por mais que qualquer ato de corrupção seja criminoso e antiético, o fato é que há gradações no desvio do patrimônio público, assim como na subtração da propriedade alheia. Compreendemos melhor quando esses crimes são praticados dentro de um certo limite. Não é que a contenção do corrupto ou do ladrão o anistie de seu crime, mas faz com que seja mais fácil compreender quem o praticou. Quando os valores se tornam excessivos, contudo, uma espécie de alarme mental soa. Escapa já à nossa compreensão. Nas peripécias do protagonista, temos uma acumulação ininterrupta de riquezas.

(Renato Janine Ribeiro, professor da Universidade de São Paulo/Unifesp, no prefácio do livro “Se não fosse Cabral, a máfia que destruiu o Rio e assalta o país, livro de Tom Cardoso, lançado em 2018, e que disseca os crimes do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral)

JUSTIÇA ELEITORAL FALHA

A Justiça Eleitoral precisa melhorar os seus mecanismos de combate aos crimes eleitorais. Depender, em sua maior parte, apenas das denúncias anônimas, virou quase uma obsolescência diante da evolução dos criminosos nessa seara.

JUSTIÇA ELEITORAL FALHA II

Para termos uma ideia de como os malfeitores avançaram, basta citar que alguns candidatos simularam rompimento com seus principais assessores e cabos eleitorais. A briga de faz de conta foi o pretexto para que os carros desses assessores e cabos eleitorais tirassem os adesivos dos seus carros. Veículos que passaram a madrugada do sábado entregando dinheiro, cestas básicas e até ventiladores aos eleitores.

MENOS, MENOS

Pela grandiosidade da estrutura utilizada, pelo uso desmedido da máquina pública e pela compra desmedida de votos, certas vitórias são questionáveis. Sem essa vergonhosa combinação, muitos teriam ficado pelo caminho.

PL

Atribuem ao ex-presidente Bolsonaro o fato de o PL ter conquistado muitas prefeituras de norte a sul do pais. Na realidade, o número conseguido até aqui (pouco mais de 500) está bem abaixo da projeção feita pelo presidente da sigla, Waldemar Costa Neto. O triunfo da sigla é resultado do Fundo Eleitoral, que a sigla recebeu mais de R$ 1 bilhão. E também às emendas parlamentares, que turbinaram os cofres dos municípios onde caciques políticos como o deputado federal Arthur Lira tinham correligionários ou parentes na disputa.

PULANDO DE BARCO

Em Mossoró, já se fala em vereador eleito querendo mudar de lado. As informações são de que Mazinho do Saci, eleito pelo PL, estaria com conversas para compor a bancada governista na Câmara Municipal.

 

EXPULSÃO

Circulam na Internet vídeos de dono de instituto de pesquisa sendo escorraçado pela população de um município do Vale do Assu. O tal instituto teria manipulado na tentativa de viciar a vontade do eleitor. Para se ter uma ideia da gravidade do caso, o instituto mostrou um dos candidatos com a maior rejeição. Abertas as urnas, o candidato mais rejeitado, segundo a citada pesquisa, ganhou a eleição com mais de 53% dos votos. O povo quase chegou a bater no dono da tal empresa de pesquisa. Nem todo mundo é passivo como o eleitor de Mossoró.

 

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