E se fosse sua filha?

por Ugmar Nogueira
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* Márcio Alexandre

Ele tem 67 anos e é pai de cinco filhos, dos quais uma menina. Duas condições que por si só já deveriam fazer com que se colocasse como exemplo. Apesar de estar no terceiro casamento, se diz defensor da família, mais uma situação que agrava ainda mais sua mais recente e perversa revelação.

Mesmo com Deus em seus slogans de campanha, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não respeitou nem sua própria fé e cometeu, não só um pecado, mais um crime. Dos mais abomináveis. Dos mais nojentos. Dos mais imperdoáveis.

Não é nenhuma matéria sensacionalista. Não há nenhum exagero. Nem se está forçando a barra. O próprio presidente declarou textualmente: “…Parei a moto em uma esquina, e olhei umas menininhas… Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. Posso entrar em sua casa? Entrei”. Essas são algumas das abjetas palavras da criminosa declaração.

Não há nada fora de contexto. Nenhuma edição. Não há porque contemporizar: há apenas revelação de possíveis crimes. Que todos se revoltem e ajam. Antes que seja colocado sigilo sobre o vídeo.

Bolsonaro se notabiliza por dar declarações toscas, escatológicas, preconceituosas, discriminatórias, transfóbicas, misóginas. Essa revelação é mais que tudo isso junto: é monstruosa. Se torna ainda mais pavorosa porque advinda de um senhor de idade, um idoso, um presidente, um chefe de poder. Um chefe de governo com declarações pedófilas. Um pedófilo na Presidência da República?

Como presidente, Bolsonaro tem foro privilegiado, ou seja, só pode ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Corte que vive sob seus ataques. Por uma razão peculiar: Bolsonaro tenta minar as forças do Supremo para deslegitimá-lo quando tiver que enfrentar aquele tribunal. Para se vitimar. Para se dizer perseguido, embora pareça gostar de perseguir crianças, meninas. Perseguição com lascívia. Lascividade com perversão. Uma abjeção.

As declarações de Bolsonaro extrapolam o bom senso. Atingem em cheio a moralidade. Ferem de morte a civilidade. Um crime contra a infância. Uma infâmia contra a inocência. Por estarem nessa condição, causa perplexidade que tenhamos tanta gente silente. A cumplicidade de gente importante dá ao voto uma importância ainda maior, porque parece que enquanto estiver travestido de presidente, Bolsonaro não pagará por seus crimes. Mesmo os mais hediondos.

Defensores dos direitos das crianças, Ministério Público, prefeitos, presidentes de Câmaras Municipais, dirigentes de delegacias de defesa da infância e juventude, vereadores, não se ouviu, até aqui, uma dessas vozes a defender as crianças. Se calar diante de algo tão grave perpetrado contra seres tão indefesos é atrair para si uma cumplicidade criminosa. É perturbador que ajam assim. É vergonhoso que assim se comportem. A todos e a cada um, cabe uma pergunta: e se fosse sua filha? Porque, como bem disse a deputada Natália Bonavides, não pintou só um clima. Desenhou-se um criminoso.

* Pai e jornalista

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