O fato mais marcante da política mossoroense nos últimos dias foi a revelação de que o vereador Raério Araújo (PSD) mantém nos quadros da prefeitura de Mossoró nada menos que três filhas com cargos comissionados. O Ministério Público vê a situação como nepotismo puro. Um só cargo já seria condenável. Três, então, demonstram, além da ilegalidade, uma ganância desmedida.

Atento e vigilante aos deslizes alheios, Raério preferiu silenciar quando patinou naquilo que mais cobra dos outros: ética no serviço público. Os órgãos de imprensa que noticiaram o fato informaram que não encontraram o parlamentar para dar sua versão. Estranho que Ráerio, sempre chegado a uns holofotes para denunciar todo e qualquer erro de adversários, não tenha tido tempo para se explicar. O caso, porém, não é ruidoso apenas por isso. Há outros fatores a serem analisados.

Além de sua postura sempre combativa na exigência do cumprimento da lei – pelo menos por parte dos outros – o vereador preside nada menos que a Comissão de Constituição e Justiça, colegiado que tem por obrigação velar, entre outras coisas, pelo cumprimento dos princípios que regem a administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

O episódio expõe também a fragilidade na equipe responsável pelas nomeações e faz o prefeito passar um constrangimento desnecessário. Allyson Bezerra é servidor público concursado de uma das mais importantes instituições do país, a Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa). Ao vivermos no estado democrático de direito, o mínimo que se exige de cada um de nós é que saibamos que estamos sob o império da lei. Quase inaceitável, portanto, que um gestor ignore algo tão elementar. Especialmente se o gestor for servidor de carreira de órgão público.

O nepotismo praticado por Raério Araújo e denunciado pelo Ministério Público também causa espanto porque o prefeito Allyson Bezerra conta com uma assessoria jurídica que é considerada uma das melhores do Estado e – quiçá – do país, sendo composta por mestres e doutores, como por exemplo o advogado Humberto Fernandes (consultor geral). Fernandes, é importante que se registre, foi presidente da subseccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e conselheiro federal da instituição.

Ao se cercar de gente com currículos e práticas tão relevantes na defesa do cumprimento da lei, a existência de caso de nepotismo no âmbito de sua gestão gera para Allyson um constrangimento incalculável.

Soa também constrangedor para Raério por todo o seu discurso. O nepotismo é uma prática muito comum nas velhas oligarquias, criticadas de forma contundente por Allyson e pelo próprio Raério.

O atual momento vivido na política de Mossoró, inaugurado a partir da esperança depositada pelo eleitor na proposta e discurso de Allyson, não tem espaço – ou não deveria ter – para que se macule o serviço e a gestão públicas com algo tão condenável. Inclusive por Allyson e Raério.

Ao fazer uso da palavra na tribuna da Câmara Municipal, o vereador não perde uma oportunidade de criticar a administração passada. Raério atua sempre olhando para o retrovisor. O episódio mostra que Raério precisará ser mais cuidadoso com o que diz e mais diligente com o que faz. O péssimo exemplo que está dando deverá fazer com que no mínimo ele passe a ser mais respeitoso com aqueles que critica.

Ao prefeito Allyson Bezerra se exige que passe a ter mais cuidado com as nomeações. Sua pretensão de ser onipresente nos órgãos e ações da prefeitura cobra um preço. Esquecer o zelo em algumas situações mais delicadas, como essa, pode ser um reflexo disso. Estar mais atento a esses fatos evita no mínimo constrangimentos.

 

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