Nossa lenta morte diária

por Ugmar Nogueira
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* Márcio Alexandre

O artista morre e há uma quase comoção nacional. Há um lamento profundo de todos. Uma dor coletiva. Um sofrimento geral. A pessoa, pública, inteligente, genial, da TV, teve uma trajetória de quase onipresença na vida dos que agora lamentam sua partida.

Mas há tempos não havia mais sequer presença. Há muito não se vivenciava na tela a sua genialidade. Há anos, não se gozava da sua arte no dia a dia. O artista estava recolhido. Pelo peso da idade. Pelo ostracismo que o estrelato reserva aos que envelhecem.

A morte do artista é uma metáfora da vida de todos nós. Aos poucos vamos diminuindo nossa presença. Gradualmente sendo esquecidos em nossa existência. Lentamente morrendo. Na utilidade, na memória, na história. Porque talvez o que nos motive seja o novo. O que nos interesse seja a novidade. O que nos excite seja a jovialidade.

Vamos sendo esquecidos todos dias, até sermos lembrados pela morte. Até parece que escolhemos não lembrar daquilo que não podemos esquecer. Envelhecer é ser invisibilizado. Se tornar invisível é morrer um pouco todo dia. Lentamente.

* Professor e jornalista

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