* Márcio Alexandre
Ainda existem lugares especiais, onde a simplicidade se faz morada e o amor se revela em toda cena que a natureza lança na retina. Nessas paragens, até o relógio descansa.
São oito horas e trinta minutos da noite e nos alpendres das casas ainda habitadas, grupos de cinco a oito pessoas se reunem para conversar. Falam sobre tudo. Nada de papo sobre subcelebridades, influencers ou quaisquer outros vícios graves que a mídia vende todos os dias.
Ninguém com celular na mão. Cães, gatos, bois e vacas dominam o cenário, que se faz bucólico. Onde o relógio descansa, o tigrinho não tem vez.
A brisa que prenuncia chuva, alegra. Renova a esperança da água que pode cair. E inspira a fala de quem lamenta porque não choveu. Onde o relógio descansa até o lamento é suave.
Onde o relógio descansa, todos vão para o berço antes das 22h, e ninguém acorda depois das 5h. Ninguém levanta tarde, para a ampulheta não apressar. E o cronógrafo não corre para ninguém se aperrear.
Próximo das nove horas, os mosquitinhos ficam ainda mais impacientes, voam mais rápido e fazem mais barulho, como que anunciando a hora de dormir.
Onde o relógio descansa, qualquer cama é melhor que king size. Toda coberta é mais aconchegante do que qualquer edredom.
Onde cronômetro não corre, a lua se faz poesia, e a prosa aquece o coração. Onde o relógio descansa, o tempo não anda, porque a vida pausa para apreciar as coisas que são importantes.
* Professor e jornalista