* Jônatas Andrade*
Nada poderia soar e ser mais real que um imaginário mundo infantil. “Projeto Flórida” (2018), mais novo filme de Sean Baker, diretor do excelente ‘Tangerines’, é a alegoria máxima das ruínas de um mundo utópico.
Ao escolher narrar seu filme do ponto de vista de seus protagonistas mirins, Baker conduz a ‘mise-en-scène’ (expressão francesa para “montar a ação do palco”) com maestria. A direção de fotografia sabe que para se sugerir uma alegoria pueril da realidade, é necessário que seus enquadramentos tenham planos mais baixos, na altura das crianças, ou mesmo dos seus planos de visão.
Assim, Projeto Flórida funciona como um duplo filme: é, ora das crianças, ora dos adultos. Sem cortes abruptos, a transição da estética pedagógica para a estética bruta dos adultos acontece de maneira suave. Ainda que a estética adulta derrame excessos de realidade crua e feia, sempre há o imaginário das crianças colorindo toda a insensibilidade do resto.
Funcionando ainda como uma crítica quase direta ao Walt Disney World (sim!), Projeto Flórida tem consciência da pequenez de seus personagens, mas possui noções ainda mais profundas do quanto e de como seus sonhos são imensos e avassaladores.
Trazendo Willem Dafoe na performance que lhe garantiu uma indicação ao Oscar de Ator de Melhor Coadjuvante, é na menina Brooklyn Prince, que interpreta a doce e levada Moonee, que está o coração e a alma do filme. Ainda que de dores, Projeto Flórida é um filme de ternuras.
* Coordenador de Tutoria na Diretoria de Educação à Distância (UERN), membro da Associação de Críticos Cinematográficos do RN, assessor parlamentar na Câmara Municipal de Mossoró e Conselheiro Municipal de Cultura em Artes Visuais.
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Muito bom!!