* Márcio Alexandre
Um suposto caso extraconjugal foi a “vedete” jornalística de alguns dias atrás. Envolveria figuras públicas e “famosas” da terra papa-jerimum com a inclusão de personagens de outro Estado.
Tudo surgido, conjecturado, maquinado, a partir da escuta de uma provável confissão.
O responsável pela publicação é um blogueiro com credenciais nada alvissareira: disseminador de notícias falsas, propagador de discurso de ódio. Recebeu, durante muito tempo, verba pública do Governo do Estado, em gestões anteriores ao primeiro mandato da professora Fátima Bezerra.
A publicação não denunciou nenhum problema de ordem pública ou privada. Mexeu com curiosidade de muitos e abalou a reputação de outros. Uma maldosa desnecessidade.
Shora, o “tema” da vez seria a suposta condição homoafetiva de um gestor público. Com pitadas de traição à lá Nelson Rodrigues.
Tudo no campo das hipóteses. Narrado no território das maldades. Propagadas nas ondas do ódio. Com requintes de safadeza. De quem as publicou.
Gente mal amada buscando nos outros defeitos na sua forma de amar. Masculinidade tóxica amplificando homofobia. E, claro, nada provado.
Nada com fonte, foto ou fundamento. Só fofoca. E fofoca, perdoem-me os que pensam o contrário, não é notícia.
Para que seja elevada a tal condição é preciso que ela responda a algund pequenos questionamentos: qual o valor social que a sustenta? Caso se confirme como fato, o que ela resolve de problema? O que suscita de debate? O que de fato, de ilegal, tem nas condutas alçadas à condição de fato publicável? O que traz ela de socialmente relevante para a coletividade?
Para pontuar questões mais concretas ligadas à produção de uma notícia que mereça manchete pergunta-se: como são aferiveis os tais fatos fofocados? Sim, não são poucas as denúncias que nos chegam e, para que sejam consideradas críveis e passíveis de noticiamento, é necessário que sejam pelo menos verossímeis. Caso sejam, é imprescindível que possam ser checadas. Passada essa etapa, importante que, pelo menos para o jornalista haja provas documentais (passíveis de atestar o que se está denunciando) e, testemunhas, fontes, relatos (públicos ou anônimos, para o leitor, registre-se) que garantam que o jornalista não vá cometer um deslize, um erro, uma barrigada.
Sem que esses elementos, juntos, sejam comprovados, não há que se falar em notícia. Sem que um fato não se subsuma a tais condições, não é notícia. É boato, disse-me-disse, fofoca. Que muitas vezes só comporta uma nota de esclarecimento. E estas não repõem a integridade das reputações trucidadas. Moer reputações não é função do jornalismo. Fofoca, publicada onde tiver sido publicada, gere os acessos que gerar, suscite os comentários que suscitar, repercuta o que repercutir, não é notícia.
Mesmo que se fale em jornalismo de fofoca.
Porque o caráter desse tipo de produção textual impede a que se respeite o Código de Ética do jornalista, que lembra, quase com letras garrafais, que “é dever do jornalista divulgar os fatos e as informações de interesse público […] respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão”.
Nos casos, cinicamente, finge-se que não se está dizendo sobre quem se está falando quando todo mundo já atribui o fato (suposto, hipotético) a alguém.
Trata-se, nos episódios recentes que alguns publicaram, sensacionalismo barato. De corar de vergonha o fait divers.
* Professor e jornalista
Matéria necessária! Excelente!
A matéria é muito boa, pena que associou a fofoca a mulheres, demonstrando o machismo imperioso (ver foto da matéria ) e o blogueiro é homem… vá entender….
Verdade. Foi involuntário, mas foi um erro.