* Márcio Alexandre
O capitão da Polícia Militar Styvenson Valentim comandou, por alguns bons anos, as operações de combate à presença de bêbados ao volante, as chamadas blitzen da lei seca. Atuava com rispidez e gostava de ser chamado de “implacável” na condição de chefe dessas ações.
Em algumas entrevistas concedidas à imprensa, se denominava implacável para garantir que a lei fosse cumprida. Nas entrelinhas, o que Styvenson queria dizer é que havia gente embriagada ao volante porque se fazia vista grossa, se maneirava para cima dos infratores. Para o comandante, a corrupção impedia que a força da lei se operasse sobre os erráticos.
E foi assim que, ostentando uma fama de incorruptível, de “caçador” de foras-da-lei, que o militar se elegeu senador. No Senado, a bandeira do combate à corrupção nunca tremulou com a força com que Styvenson a empunhava quando corria atrás de “bebuns”.
O mais recente episódio no qual se envolveu enquanto senador mostra, de forma transparente, que Styvenson não tem nenhum compromisso com a transparência. Que parece só saber usar o poder para punir os pequenos.
O senador assinou o requerimento para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a corrupção no Ministério da Educação (MEC). A comissão, já se sabe, servirá apenas para saber até onde os pastores mandam naquela pasta e o real valor do dinheiro desviado por eles e para eles. O resto, já se sabe, é puro flagrante.
Pois bem, dias depois, e sem motivo aparente, voltou atrás e retirou a assinatura. Desavergonhadamente revelou: “Até o final desse mandato eu não assino CPI nenhuma”. Não se sabe o que levou Styvenson a tomar decisão tão radical. O senador declarou publicamente que não vai querer que nada seja investigado até o final do seu mandato. Ora, vejam só: Styvenson tem mais de 4 anos de senadorismo pela frente. E, no seu dizer, haja o que houver, faça-se o que se fizer, morra-se quem morrer, mas se isso tiver que ser esclarecido através de uma CPI, não se conte com o apoio dele.
Com essa declaração, Styvenson fere de morte as comissões investigatórias. O senador, infelizmente, não percebeu que ao dizer o que disse, fez cair morto o seu discurso de combate à corrupção; sua moral de incorruptível; sua fama de caçador de foras-da-lei. Tudo jaz sem vida ao lado do seu natimorto mandato. A tirar as polêmicas, a misoginia e os escândalos nos quais se meteu, não se sabe outra coisa que tenha sido feita por Styvenson no Senado da República.
Voltar para o comando das blitzen da lei seca talvez seja o caminho de volta mais acertado para Styvenson. Pelo menos para diminuir os bêbados pelo caminho.
* Professor e jornalista
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