* Márcio Alexandre
Compramos à distância, brindamos pelo google meet e consultamos o médico pelo computador. Somos, definitivamente, a sociedade do distanciamento.
Preferimos o shopping ao mercado porque onde há mais espaço, nos tocamos menos.
Sebos, botecos e bodegas resistem pela força do saudosismo. Mais do que lugares de vendas, eles são espaços de encontros, e esses parecem estar em falta no mercado.
E não nos encontramos porque a sociedade do distanciamento também é a do imediatismo. Ela não tolera esperas para gestos humanos necessários.
Ela não aceita a duração do abraço. Não permite o curso do beijo. O percurso do desejo.
Porque são coisas que só tem sentido se durarem. Se se protrairem no tempo. Porque para a sociedade do distanciamento tudo é demora. Nada é duração. Porque nela tudo é urgência. E na urgência não se vive, se sobrevive.
Na sociedade do distanciamento, a aula é online e o aprendizado é pela tela. Nela a notificação de quem está longe vale mais do que o chamado de quem está perto. Importa mais o comentário na interface do que o conselho face a face.
Até na fé parece valer mais quem tem mais seguidores, consegue mais cliques e lacra mais em cima dos contrários.
Já nos obrigamos a ficar distantes por causa de uma pandemia. Mas hoje a maior doença é não querer ficar perto. E principalmente não querer se demorar naquilo que nos faz verdadeiramente humanos: o encontro.
É sintomático que a corrida seja o esporte da moda hoje. Nela, até se corre junto, mas se ganha sozinho.
Na sociedade do distanciamento, estamos indo mais longe. O que a gente não se pergunta é se vamos conseguir voltar.
* Professor e jornalista