* Elma Cunha
Todo nordestino tem
Na alma uma rede armada
Para balançar seus sonhos
E dar uma relaxada
Quando o corpo pede arrego
É ninho de aconchego
Junto da pessoa amada
Uma rede é um conjunto
De fios entrelaçados
Que podem ser bem juntinhos
Ou também mais espaçados
De fibra, linho. algodão
Com boa sustentação
Para os corpos cansados
No nosso mundo existem
Redes que são de outro jeito
Usadas para outros fins
Mas sob o mesmo conceito
De fios que estão unidos
Uns nos outros envolvidos
Adormecendo os sujeitos
A rede usada na pesca
É bonita de se ver
Os seus fios transparentes
São usados pra envolver
Quem no seu caminho entrar
Para depois arrastar
Sem dar chance de correr
Há redes de todo tipo
De banco, de hospital
Tem redes que são de lojas
Redes de telejornal
Tem redes de lanchonete
E a famosa internet
Com alcance mundial
A rede tradicional
Que é usada no lazer
Vem com uma bela varanda
Bonita para fazer
O comprador se encantar
Deitar e se acomodar
Sem outra coisa querer
O meio da rede é feito
De uma teia projetada
Com tramas, fios e nós
Que deixa paralisada
A pessoa que se deita
Que quando o repouso aceita
Não quer saber de mais nada
Os cordões que prendem tudo
De punhos denominados
Atam toda a estrutura
Mantendo tudo amarrado
Se encaixam no armador
Para manter sem pudor
O sujeito pendurado
Se você pensar direito
Outras redes também são
Das mesmas partes formadas
Eu faço a comparação
Uma fachada envolvente
E o meio que atrai a gente
Presos nos punhos estão
Fazendo uma analogia
Com a rede mundial
A tal rede nos vicia
Com um poder sem igual
Enredando todo mundo
Em um domínio profundo
Bastando abrir o portal
Sem cair na hipocrisia
De somente atacar
Essa rede é genial
Ela vai conectar
O cidadão atual
Com a cultura global
Basta só ele clicar
Hoje o conceito de espaço
É visto em outra escala
Alguém que está no Brasil
Pode estar na mesma sala
Agindo naturalmente
E conversando intimamente
Com alguém da Guatemala
Se estiver curioso
Procurando informação
A rede tem buscador
Pra resolver a questão
Numa fração de segundo
Traz qualquer saber do mundo
E bota na sua mão
Mas como tudo na vida
Rede demanda cuidado
Pode te fazer cair
Te deixar acomodado
Pode te anestesiar
Te fazer querer ficar
Eternamente deitado
É triste ver o retrato
Dessa nova geração
Presa nos punhos da rede
Numa bolha de ilusão
Seguindo o balanço seu
Desde o dia que nasceu
Sem botar os pés no chão
Hoje em dia o sujeito
Não vê a realidade
Só reproduz o balanço
Da rede da vaidade
Em um mundo virtual
De conteúdo viral
Não importando a idade
Se achando protegida
Em um lençol de má fé
A pessoa envolvida
Digita e fala o que quer
Sem julgar veracidade
Divulga como verdade
Uma mentira qualquer
Tem gente que aproveita
O tecido maleável
Da rede pra enganar
Criança influenciável
Camuflando seus perfis
Cometendo crimes vis
Contra quem é vulnerável
Na sua rede sozinha
Pensando em impunidade
A alma que é mesquinha
Sai fazendo atrocidade
Atos de capacitismo
Homofobia, racismo
E todo tipo de maldade
No balanço bom da rede
Todo mundo quer mostrar
Que só vive coisa boa
Fotografa e vai postar
O lugar onde passou
Também o que almoçou
Ou que roupa vai usar
O sujeito que está triste
Ao ver tanta gente bem
Com posts falsos insiste
Que está feliz também
Só que dentro está doente
Sofrendo absurdamente
Mas sem dizer a ninguém
Esse cordel não pretende
A tal rede difamar
Porque eu sempre que posso
Nela vou me balançar
A fim de me divertir
Me informar, me instruir
E até mesmo trabalhar
Sugiro a toda pessoa
Que esse cordel degustar
Que desarme a sua rede
Sempre que presenciar
Os punhos da opressão
Com as teias da ilusão
A verdade sufocar
Pois de vez em quando é bom
Sair da rede e sentir
A concretude da vida
Sem medo de dividir
Numa conversa informal
Com um amigo real
Motivos para existir
* Professora aposentada das redes estadual e municipal de ensino de Mossoró; membro da Comissão Mossoroense de Folclore (Comfolc)