Universidades de Mossoró não adquirem mais livros de autores locais por conta de bu(rr)ocracia e (dizem eles) recursos

têm que fazer licitações para aquisição das obras, mas não precisa ser um expert em Direito para saber que em determinados casos existe a dispensa desta exigência

por Ugmar Nogueira
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Por Caio César Muniz
(Jornalista e escritor)

Mossoró sempre foi um grande celeiro de escritores. Livros de toda natureza: poetas, historiadores, genealogistas, cronistas, romancistas e o diabo a quatro. Uma efervescência impulsionada até 2005 pelo trabalho incansável do professor e editor da Coleção Mossoroense, Vingt-un Rosado.

O selo criado em 1949 chegou a ser mencionado em jornal de nível nacional como a “maior Coleção de títulos publicados no Brasil” e só não figurou no Guiness Book, porque a intempestividade literária de Vingt-un deixou de lado por muito tempo informações importantes para uma publicação, como o ISNB ou qualquer outro registro oficial, junto à Biblioteca Nacional, por exemplo. Era publicar, e pronto.

Entrei para este rol em 2016 como o meu livro “E na solidão escrevi”, um livro de iniciante mesmo, com versos juvenis e com tiragem de 300 exemplares, era (e ainda é) suficiente para o nosso universo literário que raramente ultrapassa a reta Tabajara.

Pois bem, para nós, desde aquele tempo, tínhamos pelo menos a garantia de venda de algo em torno de 20% da tiragem para um público específico dentro da nossa própria urbe: o Colégio Diocesano, na pessoa do saudoso padre Sátiro Cavalcante Dantas, sempre adquiria pelo menos 10 exemplares; a UERN e a ESAM/UFERSA também adquiriam algo em torno disto e às vezes 20 exemplares. Um desafogo para o autor que só vende mesmo no lançamento ao seu público restrito a alguns familiares e amigos. Depois vê um “pinga-pinga” que se espraia até se tornar um livro “esgotado”. Costumo dizer que nossos livros cheiram a sovaco, a gente publica e bota debaixo do braço e sai em busca de venda.

Pois bem, estes dias fui surpreendido com a triste informação de que acabou aquela possibilidade de venda “certa” dos autores locais para as nossas universidades e a presença fácil de padre Sátiro agora não existe mais e o motivo é mais triste ainda: bu(rr)ocracia.

É que para se adequar “ao sistema” (sempre ele). As universidades têm que fazer licitações para aquisição das obras, mas não precisa ser um expert em Direito para saber que em determinados casos existe a dispensa desta exigência, tendo em vista que não existem dois Antônio Francisco Teixeira de Melo para competir entre si, dois Davi Leite, duas Margateh Freire, duas Dulce Cavalcante.

O outro argumento é a falta de recursos. Mas falta de recursos para adquirir livros de autores locais, se de fato existe, é um problemão, caso a se pensar, coisa a se resolver, pois é inadmissível a uma Universidade.

Ressalte-se que existe uma lei de nº 11.231, de 04 de agosto de 2022, que fala sobre a inclusão de conteúdos de Literatura Potiguar na rede estadual de ensino. Diz a lei no seu artigo 1º que “Fica instituído na rede estadual de ensino público e particular o conteúdo de Literatura Potiguar como temas complementares de forma interdisciplinar.” E no artigo 2º que o “Órgão público competente estabelecerá as diretrizes básicas para a adequação das atividades mencionadas no caput do art. 1º desta Lei.” Letra morta?

Enfim, perdemos todos, nós, os autores locais, já tão desprestigiados; um público leitor, que cada vez menos vai conhecer os nossos escritos e as Universidades, que descumprem o seu papel de ultrapassar os seus próprios muros e “universalizar” os conhecimentos.

Mas, penso que tudo isto pode ser revertido com facilidade com um pouco de sensibilidade e estudo em detrimento das amarras bu(rro)cráticas e sinceramente não acredito na versão de falta de dinheiro para aquisição de dez ou vinte livros. Se esta versão é verdadeira, é melhor fechar a bodega.

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Ilustração gerada por IA (ChatGPT).

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