* Márcio Alexandre
Envergonhado e constrangido, escrevo esse artigo. Mas é preciso escrevê-lo. Minha obrigação enquanto jornalista. Meu dever de cidadão. Minha contribuição como professor.
Envergonha-me ter que dirigir-me a homens públicos para dizer-lhes obviedades: senhores vereadores, melhorem. Não dá mais para ver a Câmara Municipal de Mossoró transformada em palco de espetáculo tétrico.
Envergonha-me porque são nossos representantes nos fazendo corar. De tristeza e desesperança. São os parlamentares de minha cidade. Não me regozijo quando algum deles erra. Quando é o primeiro erro, lamento. Quando reincidem, sinto dó. De quem os escolheu.
Constrange-me ter que ouvir e ver quase diariamente pessoas pagas com nosso dinheiro para destilar ódio, preconceito e intolerância. Constrange-me que em algumas ocasiões, por filigranas o plenário não é transformado em ringue.
A Câmara Municipal é uma casa política. Para se fazer Política com P maiúsculo. Infelizmente, não é o que temos visto, com raras e honrosas exceções. Muitos dos discursos ali proferidos beiram a selvageria. Homens públicos que não toleram uma crítica. Políticos que não aceitam uma opinião contrária. Contrários que não se toleram.
Ontem, o presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação, Raério Araújo (PSD) achincalhava um adversário, ao mesmo tempo em que o desafiava para a briga. “Diga na minha frente, se tiver coragem”, bradava, fazendo inveja aos Assírios. Não satisfeito em seu desequilíbrio vocabular, ainda comparou o suposto desafeto a “mulher ruim” e “baitola”. Não dá para fazer comparação com algo tão repugnante.
Hoje, o vereador Naldo Feitosa, reparem só, filiado ao Partido Social Cristão (PSC) foi o errante da vez. A pleno pulmões, mandou um lamentável discurso de intolerância religiosa. A despeito de atingir uma adversária política, afirmou, numa fala com pouca coesão e muita maldade: “próximo ano a campanha vem aí. O próximo ano ela estará pedindo votos para o governo novamente, fazendo pacto com toda quanto é religião”.
No Estado laico em que vivemos, Naldo Feitosa, como homem público que é, detentor de cargo eletivo e integrante de um poder constituído, deveria saber que errada estaria a pessoa a quem ele tentou criticar, se ela privilegiasse uma religião em detrimento das demais.
A Raério, Naldo, e aos demais que insistem em esquecer que nos representam, um apelo: melhorem. Tenham zelo pelo mandato. Tenha apreço pela Câmara Municipal de Mossoró. Tenham respeito pelo povo. Por favor, não nos façam passar ainda mais vergonha. Já fomos constrangidos demais.
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* Professor e jornalista
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