* Márcio Alexandre

Escrevo esse texto com o estômago revirado, o sangue em temperatura a mil, as vísceras querendo sair do corpo. Escrevo sem chão. Não tenho ódio. Indignação e revolta dominam toda a sinapse de sentimentos, emoções ou sensações. Não há um nervo meu que não tenha sido afetado. Um neurônio que não tenha sido prejudicado. Não há um músculo que não tenha se retraído. Um neutransmissor que não tenha sido tocado.

Um homem, pobre, negro, doente. Imobilizado, indefeso, inofensivo. Um Zé. Um João. Um Chico. Um pobre homem. Posto num camburão, jogado no espaço de um carro para o qual talvez não se aceite mais sequer animais. E dois seres animalescos construindo a barbárie. Nazificando o crime. Incriminando uma corporação. Sádicos. Monstros. Bárbaros. Pagos por nós. Nos eliminando. Nos reduzindo. Nos acabando em fumaça.

Não se se satisfazem apenas em matar. Precisam do requinte do mal. Da significação do maligno. Da simbolização do capeta. Emulam uma câmara de gás. E deixam o homem na asfixia, morrendo lentamente sem ar. Lutando por um pouco de oxigênio. Desesperando-se. Debatendo-se. Desfalecendo-se em agonia. Agonizando em um cubículo. Sem ar. Sem direito a uma segunda chance. Sem chance de se defender. Não há nada que justifique tanta crueldade. Só na ditadura se viu órgãos de repressão agir de forma tão torpe.

Dois policiais rodoviários federais. Dois criminosos se escondendo atrás de uma farda. Dois covardes. Mas empoderados. Por outros criminosos em postos de poder. O Brasil virou um tribunal de exceção comandado por facínoras. Uma nova inquisição instituída pelo Estado para vigiar e matar pobres, pretos e favelados.

Escrevo tomado de indignação. Mas escrevo. É preciso tornar pública nossa indignação. É necessário se indignar com o poder público sendo usado por canalhas como escudo para cometer crimes.

Charge: Brasil 247.

* Professor e jornalista

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

One thought on “A barbárie veste farda

  1. Nota mil para você Márcio, sua voz precisa ecoar pelo mundo. É inadmissível que isso aconteça como vem com muita frequência tal barbaridade

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