* Márcio Alexandre

 

Uma prova escolar é, além de um instrumento de avaliação, uma importante ferramenta de aprendizagem. Mas é necessário, claro, que ela seja instrumentalizada como tal. Há vários tipos de provas para objetivos específicos.

Uma prova diagnóstica é imprescindível para aferir não só o nível em que está a aprendizagem do aluno, mas e também para o planejamento. Do trabalho em uma turma, de uma unidade educacional, de uma rede de ensino.

Em todos os casos, é necessário muito zelo em sua elaboração. Mais que isso: nela deve-se vislumbrar apenas o caráter didático-pedagógico. Qualquer outra intencionalidade, expressa ou subliminar, pode se constituir em algo catastrófico.

Chamou a atenção uma prova diagnóstica da rede municipal de ensino de Mossoró em que se colocou uma questão na qual a resposta induzia, levava, indicava, apontava, quase que em forma de súplica, que se respondesse, inevitavelmente, com o nome do prefeito da cidade, Allyson Bezerra.

Colocar tal questão numa atividade avaliativa não é, em si, o problema. O problema em si é a forma como ela está colocada e no tipo de prova em que ela foi posta. Pois bem.

Numa prova diagnóstica, sobretudo para balizar a tomada de decisão em um planejamento pedagógico, depreende-se que uma de suas principais funções seja tentar identificar o nível de aprendizagem do aluno, o que ele sabe sobre as questões postas, os conteúdos trabalhados. Sobre que conceitos (re)construiu. Que habilidades desenvolveu.

Analisemos: a questão posta sugeria que os alunos respondessem aos enunciados a partir de vocábulos apresentados num quadro à direita das perguntas. Pela maneira como a questão foi construída, e pela forma como se cobrou do aluno as respostas, questiona-se que ela tenha sido colocada numa prova diagnóstica. Por uma razão muito simples: do jeito que foi destacada, difícil imaginar que ela tenha o condão de aferir algum nível de conhecimento. Tem, a meu ver, outras possibilidades. Mas essa não.

O quadro com as palavras para completar as lacunas dos enunciados conta com seis substantivos, sendo quatro próprios e dois comuns. Dos próprios, há três referentes a lugares (Mossoró, Natal e Rio Grande do Norte). Dessa categoria de substantivos, há apenas um nome de pessoa. De quem? Do prefeito, logicamente.

Não se desmerece a importância de que os estudantes saibam o nome do chefe do Poder Executivo municipal. A forma posta, me desculpem os que pensam diferente, tem claramente o propósito de enaltecer a figura de Allyson. Se foi involuntário, é algo grave. Se não foi, mais grave ainda. Trata-se de uma avaliação diagnóstica, não esqueçamos. Uma prova elaborada para toda a rede municipal de ensino. Curiosamente.

Ora, se a questão buscava a construção de conhecimento sobre a unidade federativa municipal, por que não colocar em relevo, por exemplo, o nome do presidente do Legislativo local? Sobretudo porque não temos Poder Judiciário municipal.

Estão querendo minimizar o problema. Questionada pelo Blog Na Boca da Noite, a Secretaria Municipal de Educação se limitou a dizer que a prova foi elaborada por um grupo de professores. O Conselho Municipal de Educação, também ouvido, disse não saber do teor da avaliação.

São com pequenas sutilezas, com mensagens subliminares, com intencionalidades subjacentes em instrumentos didáticos importantes que se iniciam projetos de doutrinação. Essa é uma afirmação para uma reflexão.

O episódio citado mostra que a pedagogia política da gestão Allyson Bezerra foi reprovada. Se continuar assim, a política pedagógica poderá ficar em recuperação.

 

* Professor e jornalista

 

Nosso e-mail: redacaobocadanoite@gmail.com

 

One thought on “A prova que reprovou a pedagogia política da gestão Allyson Bezerra

  1. Lancre pra abafar a podridão insuportável! Não restara nem os ossos desse programa vergonhoso!

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