* Márcio Alexandre
Educação é assunto de domínio público. É direito e dever. É ação e reação. Isso explica, em parte, que todos queiram opinar sobre ela. É importante que assim o seja. Mas é prudente que em alguns casos em específico, que se estude, pesquisa e, pelo menos, se leia de forma básica sobre o que se vai opinar.
Não dá para discutir sobre algo tão importante na base do achismo. Quando se analisa, se opina sobre alguma coisa baseada em estudo estar-se, no mínimo, respeitando aquilo sobre o que se está falando. E respeitando a inteligência de quem está recebendo a opinião, seja ela emitida por voz ou texto.
Imaginemos qualquer pessoa emitindo análise sobre um procedimento médico cirúrgico sem nunca ter estudado sobre o assunto. Pensemos em um outro falando sobre vício redibitório sem nunca ter pego sequer num vade mecum. Será desastroso, em ambos os casos.
Então, porque muita gente opina sobre educação sem nunca ter estudado sobre educação?
Ter ido à escola não significa ter estudado sobre educação. Ter frequentado a faculdade não significa ter estudado sobre educação. Ter ido à escola e à faculdade dá a experiência de se ter vivido momentos sobre educação e isso, claro, contribui para a formação de uma opinião sobre ela. Mas apenas isso não dá autoridade para que se opine como se tudo sobre a educação soubesse pelo fato de ter estado em ambientes educativos.
Estudar sobre educação é ter lido quem pesquisa sobre ela. É conhecer, não só de passagem, como ela se processa, que fenômenos provoca, que situações estimula.
É conhecer a experiência de quem constroi a educação. No dia a dia da escola, da faculdade, do curso. Entender as motivações de quem está nela. Compreender as condições em que atua quem vive dela.
Valorização do trabalho docente, por exemplo, não se resume ao que está no contracheque. Assim como o que está no holerite não é resultado da bondade de gestor. Tampouco é fruto simplesmente do que está friamente posto nos planos de carreira e salários. Apenas estar posto não redunda em ganhos. Sem o profissional estudar, se qualificar, conquistar os títulos, e o saber que deles deriva, não há ganho na carreira e no salário.
É por isso, também, que as lutas para manter o que a lei determina são importantes, imprescindíveis, inadiáveis. Abrir mão do que se tem direito agora significa uma perda ainda maior no futuro. No salário, na carreira, na luta. Isso tudo é educação.
Para falar sobre essas questões, não bastou a mim apenas ser o professor e viver o que vivo nessa condição. Para escrever esse artigo, não bastou a mim apenas ser o jornalista, e pensar o que penso, escrever o que escrevo e viver o que vivo nessa condição.
Foi necessário que eu tenha estudado sobre educação, sobre planos de carreira, sobre greve, sobre piso e sobre teto salariais. Sobre artigo, discurso e análise do discurso.
Para falar sobre educação, não basta apenas achar que se sabe o que nunca viu, viveu ou experimentou. Quando se age assim, não se coloca argumentos (por absoluta inexistência deles), sem os quais qualquer opinião, escrita ou oralizada, não merece a condescendência de quem quer que seja. Muito menos a leitura ou atenção.
* Professor e jornalista

1 comentário
Parabéns pelo texto. Como sempre muito sábio nas palavras. Realmente, são tantos achismos sobre um assunto tão especial e delicado de entender e de se fazer que só demonstra total ignorância e nos aponta a causa para o tipo de sociedade que temos.