Caso Eliel Ferreira: o crime, pauta e a omissão

por Ugmar Nogueira
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* Márcio Alexandre

 

Jovem, boa índole, gentil, educado. Rapaz esforçado. Um sonhador. Um batalhador. Alguém que buscava realização nas coisas que fazia, naquilo que acreditava e no amor que vivia. Quase todas as pessoas traçam esse perfil de Eliel Ferreira, bacharel em Direito de 25 anos que foi brutalmente assassinado por Ialamy Gonzaga, o Júnior Preto.

O motivo torpe e fútil. A forma covarde. O fato de não ter dado nenhuma chance de defesa à vítima e, sobretudo, a selvageria com que se tirou a vida de alguém tão indefeso nas condições em que ocorreram o homicídio, devem ser repudiados por todos. As evidências apontam para um crime de ódio previamente pensado, antecipadamente planejado, maldosamente executado. Nada disso tem sido suficiente para que a empresa onde Júnior Preto trabalha(va?) viesse a público manifestar sua indignação com tamanha barbárie.

As instituições, as empresas e os órgãos de comunicação repudiam, acertadamente, sempre que seus proprietários, funcionários e colaboradores são alvos de crimes de ódio, sejam racismo, feminicídio, machismo, misoginia, transfobia ou, como no caso, homofobia.

Na condição de porta-vozes dos seus, são sempre defensores da paz, da liberdade e do amor. Empunham ocasionalmente a bandeira do combate a barbaridades. Raras são as vezes em que agem quando ocorre o contrário, ou seja, quando os acusados são seus proprietários, funcionários ou colaboradores.

É o que se verifica no caso Eliel Ferreira. O acusado matou o jovem bacharel por ódio, por discriminação, por raiva, por se sentir ofendido porque o outro tinha o que ele será incapaz de ter: amor.

Júnior Preto é funcionário de um sistema de comunicação. E essa empresa, como devem ser todos os órgãos de imprensa, levanta a bandeira da paz, do combate à discriminação, do repúdio ao feminicídio, à transfobia e à homofobia. Lamentavelmente, a bandeira não é levantada indistintamente. A indignação demonstrada é seletiva.

A empresa em tela não se pronunciou sobre o assunto. Não soltou uma nota de esclarecimento. Não dirigiu uma palavra de conforto à família da vítima. Não escreveu uma linha repudiando a covardia, a homofobia, o crime, a monstruosidade de seu funcionário. Optou pelo vergonhoso corporativismo. Que se mostrou tão torpe quanto o crime porque resultou numa morte. Porque sem motivo. Porque sem razão.

Não, as empresas não são babás de seus funcionários. Mas quando se dignam a defender uma causa devem fazê-lo em toda e qualquer circunstância. Mesmo que quem afronte essa causa seja de dentro de sua cozinha. Aliás, principalmente se for de lá. O bom exemplo deve sempre partir de dentro de casa. A omissão é quase sempre cumplicidade com quem delinque.

 

* Professor e jornalista

 

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